sexta-feira, 28 de maio de 2010

A equilibradora de pratos

O nome eu peguei emprestado da minha orientadora do mestrado, a Maria do Carmo (PUC-Rio). Ela dizia, entre muitas coisas, que a mulher contemporânea é uma equilibradora de pratos. A metáfora me soou agradável aos ouvidos: parece que eu vi uma personagem de circo louca para não deixar seus pratinhos no chão, para não deixar sua plateia decepcionada no fim do espetáculo, para parecer bonita e sorridente com o collant prateado, para receber as palmas e sorrisos no final do show...
Quase dez anos depois (meu Deus, quanto tempo!!!!), eu sou a Equilibradora de Pratos. Tenho marido e dois filhos, um de 7 anos e um de 5 meses. Minha mãe, uma senhora frágil de 70 anos, mora comigo. Sou professora, trabalho em muitas escolas, cursos e numa faculdade. Como se já não fosse o bastante, resolvi que voltaria a estudar e estou no meio do meu curso de Doutorado, em uma universidade que fica a 2 horas de viagem da minha casa. Aos sábados e domingos, tento administrar a casa e fazer mercado. Todo dia à noite estudo e preparo aula. Às terças, vou ao salão para fazer unha e cabelo. Às sextas, faço RPG e acupuntura, na tentativa de salvar minha coluna de uma crise. Diariamente, meu filho mais velho me cobra que faça com ele suas tarefas de casa. Meu bebê ainda mama no peito. Meu marido quer o colo cheiroso e disponível da mulher amada após um dia cansativo de trabalho... Quando dá, tento ser cronista, blogueira e poetisa.
Ao contrário do que muitos podem pensar, não reclamo da minha rotina. Reclamo da falta de grana, do filho que não dá valor ao que tem, do marido que não entende quando estou cansada demais para uma noite tórrida de amor, do governo que come parte do meu rendimento com o Imposto de Renda. No mais, reclamo também dos alunos, com a-maior-vida-boa, mas que não dão valor ao que têm (em sua maioria)... Em quase 100% das vezes sou feliz e me divirto com o que faço. Às vezes tenho vontade de chutar a sala de aula e fazer um concurso público para viver com as traças numa sala esquecida num almoxarifado qualquer. Passados 15 minutos a vontade passa e volto a amar tudo o que eu faço. Nas férias, morro de dó de ver as escolas vazias. Quando os meninos se formam, tenho orgulho em dizer que foram meus alunos. Alguns deles se tornaram amigos e até trabalham comigo.
Termino a minha primeira postagem com um pouco de nostalgia da faculdade e dos tempos de mestrado. O nome "Equilibradora de Pratos" mexeu um pouco comigo, meio que num antagonismo do do-que-eu-poderia-ter-sido em confronto com aquilo-que-realmente-sou. Minhas escolhas me definiram e me tornaram a Mulher (com M maiúsculo mesmo!!!!) que hoje enfrenta as crises de seu tempo, tentando da melhor maneira possível ser feliz. Há dez anos, quando eu ainda estava prestes a defender minha dissertação, eu tinha a juventude e seus prazeres, queria casar na igreja e tudo mais; naquela época a vida não era tão cheia de compromissos e tinha um viço e um gris que a gente só tem aos 20... Com as rugas, com o primeiro casamento desfeito, com a viagem à Europa que não rolou e com as estrias deixadas pela gravidez, vieram também os filhos e seus sorrisos, a certeza de um futuro mais tranquilo, o Mc Donald´s do fim de semana, e, no pacote, veio também a descoberta de que o silêncio pode ser confortável, que domingo é dia de juntar a família na cama de casal, e que na maior parte das vezes ser feliz é querer uma vida morna, menos Havaí e mais Cancun. Enfim, o manequim 44 não é a pior coisa do mundo, nem o Fantástico no fim de um domingo de chuva... Mas essas coisas a gente só descobre com o tempo...
A Adélia Prado acertou em cheio quando disse "Mulher é desdobrável. Eu sou.". Quanto a mim, ando numa fase mais humilde. Meu lema agora é "Mulher é desdobrável. Eu tento..."

3 comentários:

  1. Maravilhosa viagem sobre você. Tentei em cada parte narrada ir comparando onde estava em cada período mencionado, confesso que não consegui muito, mas mesmo assim, senti uma certa nostalgia, uma saudade fina que só os bons amigos sentem, aquela coisa de que quando se é amigo acompanha-se até de longe, quase escondido sabe?
    Não tinha dívida que você seria isso tudo e será muito mais.
    Sua licidez romântica é a sua principal qualidade.

    Abraços,

    Do seu sempre amigo,


    Max

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  2. Aninha, minha amiga linda desde o tempo em que seus pratos eram só 3: você mesma, o namorado e o trabalho. Eu brincava dizendo que "o meu tava no copo, o seu na garrafa", que sua hora de virar equilibrista ia chegar,que a minha tinha chegado bem antes- já tinha meus 4 filhos quando nos conhecemos, né? Tem horas que dá vontade de jogar todos pela janela, mas o bom mesmo é cuidar de cada um pra nem ao menos tirar uma lasquinha. Nossos amores dão sentido às nossas vidas, né mesmo?
    Linda a postagem. Fiquei emocionada e queria te abraçar apertado.
    Saudade, amiga!!!
    Can

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  3. Aninha,
    maravilhoso o seu " perfil"!
    Você conseguiu, com palavras singelas e verdadeiras, "pintar" a sua vida e nos mostrar que o importante é ter forças para continuar lutando e transformando a vida em momentos bons, para serem usufruidos e curtidos.
    É isso aí menina!
    Fico feliz de ve-la assim, principalmente produzindo e mostrando a todos o seu talento.
    Meus parabens, cercado do carinho que tenho por você.
    Beijos e saudades!!!!
    A amiga de sempre,
    Cléa

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