sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Gente boca-aberta

Hoje, mais do que nunca, (re)descobri que o mundo está repleto de gente boca-aberta, de pau pequeno (risole, né Kitty?). Gente que adula mas que por trás puxa tapete. Gente que entrou no mercado de trabalho ontem, mas que já acha que está por-cima-da-carne-seca. Gente que veste a fantasia de coelho, mas que tem as garras afiadas. Gente que deve achar que o mundo é feito só de comércio, mas que esquece que profissionais também podem ser amigos. Gente que não merece ser chamada assim, porque ainda é pedra, no sistema evolutivo.

Para esse tipo de criatura eu desejo o céu. Não o céu católico, mas o topo da pirâmide. Que esse povo cresça, pise nos outros, faça fofocas e maledicências; roube, trapaceie, minta, suborne e, se der, que matem pelo emprego.

Aí depois, eu desejo a lei do retorno. Que caiam do alto e que fiquem sozinhas, sem amor e sem ninguém. Pode notar que esse tipo de gente infeliz não tem amor, não tem filho e não tem ninguém. Como diria o meu pai, são "figueiras do inferno"!

Nesse dia em que o mundo desmoronar, quero estar lá para ver e, rancorosa e escorpianamente, não fazer nada para ajudar.

Sarcástica, vingativa, má: mas sempre eu mesma! Eu, sem pai, mãe, parente, político ou qualquer um para me proteger, porque a minha competência intelectual e cognitiva me permitem não ter de me esconder atrás de ninguém. Graças a Deus!

Pronto, falei!

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Aqueles dias...

Sabe aqueles dias em que você quer um amor para lembrar?

Que você quer praia, serra, rede e mar?
Um afago na cabeça, cheiro de mato e garoa na janela?
Aquele dia em que o mundo está explodindo lá fora,
mas você não está nem aí, porque está
a dois
sob os lençóis?

Aquele fim de semana no campo, quando você se esquece de tudo,
trabalho, trânsito, problema?
Aquele dia em que você acorda, recebe uma mensagem e pensa
"A vida vale a pena"?

Aquele dia em que o cabelo ajuda,
a roupa combina,
a impressora funciona,
a balança estaciona
o perfume impressiona?



Pois é, eu queria que ele fosse hoje...







quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Adeus a Rafinha


Rafinha boa,
Rafinha menina-bonita-do-laço-de-fita,
Rafinha sempre de bom humor,
com aquele sorrisão largo nos lábios...
Rafinha, linda, no auge de sua mocidade...

Imagino Rafinha chegando no céu:
- Licença, São Pedro...
- Entra, Rafinha, a gente estava com saudade...


Homenagem singela à minha querida ex-aluna Rafaela, que nos deixou na última semana. Foi voar num céu azul, repleto de passarinhos...

sábado, 15 de setembro de 2012

De Giovana para Gabriel

Para entender melhor a postagem de hoje, favor ler o texto de Zuenir Ventura que se encontra abaixo.

Volta Redonda, 14 de setembro de 2012

Prezado Gabriel,


Você não me conhece, mas meu nome é Giovana (eu também me chamaria Gabriel se fosse menino!!!), moro em Volta Redonda e tenho cinco meses de idade. Não, não sou prodígio; é a minha mãe quem escreve esta carta para você. Vou te explicar o motivo: aqui em casa é hábito a minha mãe ler o jornal alto para o meu pai. Ela faz isso toda vez que encontra alguma coisa que ela gosta. Como eu e meu irmão Artur somos pequenos ainda, ouvimos as coisas e vamos pensando no futuro do Brasil, país governado pela sua vó Dilma. E vó é vó, convenhamos. Por isso escrevo: pra você falar umas coisas para a sua, porque ela deve te ouvir.


Sabe, o meu irmão Johan nasceu no ano em que o seu tio (emprestado) Lula ganhou as eleições, em 2002. Na época, a minha mãe escreveu um bilhete em um caderno para que o meu irmão lesse um dia, quando crescesse. Nele estava escrito: "Filho, que você tenha um futuro muito diferente do meu, pois hoje, pela primeira vez no país, a esperança venceu o medo". Lindo, né? Mas parece que não foi bem assim que ela sonhou. Hoje, dez anos depois, a minha mãe, que é professora, está ganhando mal, sendo super desrespeitada por um monte de patrão e, ainda, está pagando uma fortuna de imposto de renda. É verdade que ela paga muito porque trabalha muito, mas será que você não pode pedir a sua avó para olhar mais para os professores do país? Será que eles não podem ganhar uns descontinhos na compra dos livros e nas viagens que eles precisam fazer para estudar mais? Fala aí com a sua avó... Os professores amigos da minha mãe estão quase desistindo da profissão e eles são muito legais... Se a gente não tiver professor bacana, como vai ser a nossa formação na escola?


E tem mais. Aqui em casa, Gabriel, a gente é honesto. Nossas contas estão pagas, a gente tem roupa e comida, graças a Deus, mas ainda falta bastante para os meus pais conseguirem comprar uma casa... Minha mãe e meu pai são trabalhadores e eles estão muito tristes, pois tem um monte de gente falando à beça na TV sobre umas coisas de eleição, mas eles não estão vendo em quem votar. Parece que tem muita gente envolvida numa tal de corrupção, que é um negócio de roubar dinheiro que seria do povo, para que todo mundo tivesse educação, escola e saúde de qualidade. Eu não quero fazer fofoca, mas algumas dessas pessoas que estão roubando são amigas da sua avó... Pede pra ela abrir o olho e fala para a sua avó que é feio ficar trocando voto, hein? A gente mora numa democracia e voto é coisa muito importante para o direito do cidadão...


É isso, Gabriel. Foi muito bom poder falar com você. Quem sabe a gente não se encontra aqui um dia, em Volta Redonda, numa época de Copa ou Olimpíada? Fiquei sabendo que muita coisa vai acontecer por perto da minha casa. A gente pode até marcar de tomar um Nescau, que tal?

Um beijo pra você e outro pra sua avó.

Giovana

P.S.: Antes que eu me esqueça, acho muito chique morar num país que tem uma mulher presidenta. Quem sabe, um dia, eu não tento também?

De Alice para Gabriel

Prezado Gabriel: Como não tenho o seu e-mail, resolvi usar o lugar onde meu avô escreve (ele deixa eu usar tudo que é dele) pra fazer um pedido à sua Vó Dilma, que eu soube na creche que manda no país (vou falando e ele vai escrevendo). Me contaram que ela manda mais do que meus três avôs, minhas três avós, minha bisavó e meus pais juntos. Me disseram também que ela é brava, durona. Mas deve ser lá pros ministros dela, não pra você, não é mesmo? Avô e avó foram feitos pra agradar a gente, pra fazer nossas vontades, tudo que a gente quer. O que seria de nós se não fossem nossos avós, hein? Mas também o que seria deles sem nós? Pai e mãe são muito chatos: querem que a gente coma tudo, que durma na hora certa, que não chupe bala e nem beba refrigerante, tudo aquilo que a gente pode fazer na casa de nossos avós, onde nada é proibido.

Como moro pertinho de minha Vó Mary e meu Vô Zu, eles vão me buscar na creche quase todo dia, e a gente conversa muito. Tudo eu quero saber o porquê. Por que eleição? Por que candidatos? Eles me explicaram direitinho e eu também queria votar. Mas eles disseram que só quando eu for bem mais grande. Mas na minha turma a gente também brinca de escolher. Eu tenho alguns candidatos a me namorar, mas eu escolhi um só, e a professora não se meteu. Já sua avó está se metendo pra ajudar quem é do partido dela. Repete pra ela o que às vezes ouço de mamãe: "Não faz isso que é feio." É o que eu queria que você pedisse a ela.

Quando você vier ao Rio, me procura. Eu já disse que tenho namorado, não podemos "ficar". Também porque sou mais velha, tenho quase três anos e você, dois, é um pirralho. Mas podemos ser bons amigos e eu posso te levar na praia e no teatro. Um beijo na bochecha, não na boca, da Alice. Meu avô manda recomendações à sua avó.


(Texto de Zuenir Ventura, publicado em O Globo de 14 de setembro de 2012)

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

CURRICULUM VITAE

Palavra. Vocábulo. Sei lá. A vida de Rosa era assim: muita palavra, muita explicação; tautologia. Na verdade, ela era obcecada pela palavra ideal, o momento certo de dizer a coisa certa - ou correta, melhor no contexto, para aprimorar a coesão textual. Algo assim, para entendermos sua excessiva preocupação metalingüística.
Esta era Rosa. Dois filhos, um menino e uma menina, um poodle e um marido que lhe era indiferente (com o pronome propositadamente ambíguo). Rosa era professora de Português, com matrícula no Estado e no Município, com algumas dezenas de tempos em escolas particulares de sua cidade e pouco tempo, muito pouco tempo para si e para os seus. Nas lacunas, o que sobrava do restrito tempo em casa (algo entre meia-noite e quatro da manhã), fumava (escondido) e se dedicava à palavra: estudos teóricos do léxico português.
Era feliz. Ou pensava ser, até receber aquela proposta, que na hora a fez encher-se de orgulho e logo depois de terror. A amiga professora de Matemática lhe avisara do concurso literário que haveria na região, uma excelente oportunidade de mostrar a todos seu talento e sua acurada percepção lingüística. A princípio, envaideceu-se com o convite, com o reconhecimento profissional...depois, desesperou-se, de tal forma que a colega atenta quase percebeu seu ligeiro rubor de face.
O que escrever? Qual seria o tema de seu texto? O que descrever, narrar ou dissertar? De repente, Rosa percebeu o que deveria ser-lhe óbvio desde sempre: a dolorosa percepção de que não havia assunto para escrever! Nesse fragmento de segundo, sua vida lhe passara à frente e vira centenas de cenas desfocadas em preto e branco: sua infância fora mesquinha e solitária, escondida atrás de brinquedos que nunca usara por medo de estragarem-se; sua escolha universitária foi feita por seus pais, porque moças de família só poderiam, quando muito, ser professoras; seu marido era, por conveniência, o irmão do noivo da prima, um bem sucedido e inculto comerciante local, a quem nunca amou; seus filhos nasceram sem lhe causarem dor, ou qualquer outro sentimento que os unisse além dos cordões umbilicais; seus pais eram velhos e sadios, sem nenhuma morte próxima que viesse lhe causar trauma, pena, sofrimento ou aprendizagem, ou qualquer coisa da qual ela pudesse tirar uma lição de vida realmente interessante.
Olhou o papel em branco e sentiu pena de sua vida enfadonha e correta. Nenhum amor, nenhuma aventura, nenhum erro, nada havia em sua frente, senão um cotidiano correto e metódico. Durante horas olhou o caderno pautado, até que as linhas azuis borraram-lhe os olhos e misturaram-se entre si. Dos livros que leu, das pessoas que conheceu, não conseguira extrair nada que pudesse lhe servir como tema. Pensou em escritores famosos e teve raiva, inveja de todos eles. Pensou em obras lidas, relidas, contadas e reescritas, nada valeu. Uma madrugada inteira sem que uma palavra lhe brotasse na mente.
Falta de inspiração, só podia ser falta de inspiração. Nada que um dia de trabalho não resolvesse. Com as crianças, certamente adviria uma idéia brilhante ou uma fagulha de reflexão a desdobrar. Só que, a cada minuto do dia, sua angústia só aumentava, ao ver palavras multiplicando-se de seus lábios, que de nada valiam ser escritas. Para quê? O concurso literário pressupunha, como o próprio nome dizia, literatura, e naquele momento o que a incomodava vorazmente era perceber que sua vida virara...gramática! Um conjunto de regras e exceções voltadas para uma modalidade culta, algo que aqueles alunos famintos e carentes não atingiam, o que os fazia a cada dia menores, devido àquele abismo lingüístico que os separava e que – ela tinha que confessar – a enchia de prazer e satisfação, até aquele momento.
Faltou-lhe o chão aos pés. De que adiantavam os adjuntos e os complementos nominais, se não lhe davam um assunto, uma literatura? (por mais que tivesse tentado fazer uma poesia com eles!). De que adiantavam os anos a fio em sala de aula, ensinando todos os filhos da cidade a escrever, se ela própria não sabia redigir um texto realmente seu, com suas idéias? Onde estava sua imaginação, se só no que pensava era corrigir e corrigir o que os outros diziam ou escreviam?
A dor que sentiu naquele momento talvez tenha sido a pior de sua vida inteira. Um misto de angústia, de piedade, de frustração por aquela vida pequena, desinteressante, escondida atrás de livros alheios em uma cidade do interior. Foi difícil perceber que as palavras, as quais ela sempre buscou e perseguiu, nunca lhe vinham na hora adequada porque ela simplesmente... não as sentia, não as vivia! Sua relação com elas era mecânica, artificial, passível de correções de certo e errado. Não eram as palavras quentes que enebriam poetas ou que arrebatavam bocas úmidas de namorados adolescentes. Não eram os gritos das crianças que brincam nas praças, ou a comemoração enérgica dos torcedores de futebol. Não eram as confissões arrependidas, ou o grito de prazer e dor de amantes apaixonados e lancinantes. Suas palavras não tinham vida, porque ela não tinha vida. A falta de vivacidade de suas palavras representava seu fracasso, o seu modo de viver, o grande cinza que era seu cotidiano.
Teve vontade de correr para um lugar que não existe, longe de tudo e de todos para viver uma vida sua, sem medo da opinião dos pais, filhos, marido, vizinhos, amigos, parentes, colegas, alunos etc. A vontade passou e ela continuou sua rotina exatamente do jeito que era. O concurso literário era uma bobagem de jovens idealistas e verborrágicos. Coisa boba e desnecessária. Voltemos às aulas de Gramática.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Voltando à ativa...

Casa, três filhos, quatro empregos, marido, doutorado, mãe... Tudo isso continua fazendo parte do meu universo, graças a Deus. Enquanto o filho mais velho começa a conhecer os mistérios do corpo masculino, a filha bebê chora de noite, reivindica o peito e coça o dentinho que não nasceu ainda. No meio de tudo isso, o meu bebê grande joga bola na sala de casa, vê DVD do Patati Patatá, leva cadeira para todo lugar para subir nas coisas. Agora, por exemplo, o Artur está chorando porque o Johan está maltratando o boneco do palhaço querido...
 Nos últimos meses, muito aconteceu. A Giovana nasceu na mesma semana em que eu qualifiquei minha tese de doutoramento. Durante os quatro meses de licença maternidade que se seguiram, a Gigi mais ficou acordada do que dormiu, e eu idem. Muita cólica, muito choro, muito susto... tudo isso foi cansativo e está sendo ainda, mas nem preciso dizer o quanto valeu a pena: a garota é linda de doer...
 Filhos, como é bacana ter três em casa. Eles são minha vida, mesmo sendo completamente diferentes um do outro. O Johan é o meu pai de novo: grande, forte, bonito, falante. Péssimo ouvinte. Mas o que é importante: um coração de ouro, daqueles que a gente quase nem vê mais. Na gravidez da Giovana, ele ficou todas as horas comigo, mesmo quando eu passava mal. Era sempre ele que me segurava as mãos e que me dava beijinho na testa na hora de deitar. Enfim, ele é de uma sensibilidade, de uma intuição... coisa de espírito velho, que já viveu muito na vida (ou em outras vidas). Agora coloquei outro apelido nele: Johan, o menino semiótico!
 Já o Artur, que engraçado, é o oposto do que o irmão foi com 2 anos de idade. O que ele tem de tímido, tem de levado e safo. Ele cai e levanta, pula, escala, vira cambalhota, toma banho e faz cocô sem chamar ninguém para ajudar. Agora, ele descobriu que a esponja (de lavar louça) parece o Bob Esponja. Se deixar, então, ele quer lavar tudo o que encontra, só para brincar com o personagem amarelo. Tudo seria perfeito, se ele não quisesse fazer isso às duas da manhã, no horário em que ele está no auge (detalhe: o menino tem insônia, para desespero dos familiares).
 Para terminar, Giovana!!! Que bela!!! Que olhos!!! Olhos de Elizabeth Taylor, cor de violeta... Para quem não sabe, a gravidez da Gigi foi horrível: teve depressão, enjoo, enxaqueca, pressão alta e até separação, e eu me senti muito triste, cansada, fraca e carente... Mas tudo valeu a pena pela criaturinha que me ama tanto, que me acha com o olhar em qualquer lugar onde eu esteja. Que me espera chegar do trabalho só para dormir agarradinha no meu peito...
 Enfim, é muito amor. As minhas roupas estão velhas, tem um tempão que eu não consigo fazer as unhas, a cama enche de filho no meio da noite. Grana no banco, viagem pra a Europa, compras em Nova Iorque? Nunca mais... ... Mas, em compensação, o coração vive cheio de amor.

Mosaico

Estou tomando coragem para voltar, depois de meses dentro de casa. Quanta coisa nova eu aprendi com a Giovana... Quanto amor eu ainda tinha guardado no meu coração... Estou voltando, aos pouquinhos, ao meu papel social/profissional. A mãe continua aqui, agora se dividindo com a pesquisadora e a professora que sou. Ana-mosaico, cheia de caquinhos de vidrinhos brilhantes e coloridos... Perdida dentro de mim, eterno labirinto, em busca do eu que de mim se perdera. Ou não.

terça-feira, 20 de março de 2012

O Chico bem ali

Eu me solidarizei tanto com a autora, que resolvi compartilhar o texto...


É preciso ser uma fã autêntica, daquelas que beiram o ridículo para entender o que senti ao ver o Chico Buarque a alguns metros de mim. Conhecer os antecedentes talvez dê uma compreensão mais exata para as lágrimas abundantes e quase ininterruptas durante todo o show, o estado letárgico que me deixou colada à cadeira; as cólicas, antes de ele subir ao palco que me levaram ao banheiro várias vezes; o suor que escorria mesmo o ambiente sendo refrigerado; o enjoo que me impediu de comer ou beber algo mais que uma água mineral com gás.

O Chico é muito mais que um compositor que eu admiro, que eu gosto. Gosto demais também do Caetano, Gilberto Gil, João Bosco, Lulu Santos, mas nada se aproxima da ligação de mais de 40 anos com o homem dos olhos graúdos que brincam entre o azul e verde e sorriso de dentes grandes que me encantam desde a adolescência.

O primeiro contato deve ter sido por volta de 1971. O disco era Construção e entendi quase nada da rebuscada, ímpar e belíssima composição em proparoxítonas. Mas a paixão devastadora veio, lembro com exatidão, quando vi a capa do álbum Chico Buarque. O rosto dele em primeiro plano, um sorriso de canto de boca e ao fundo um monte de samambaias. Não cansava de olhar aquele rosto e as músicas aos poucos começaram a fazer sentido pra mim. Descobria o sexo e o Meu Amor era a tradução literal do amante que idealizava; Apesar de Você o hino que se manteve aprisionado em nossas gargantas ou Pedaço de Mim que, mesmo a maternidade ainda tão distante, me impactava com a frase” saudade é o revés de um parto, saudade é arrumar o quarto do filho que já morreu”.Era 1978/79.

A admiração pelo belo homem se ampliara para o incomparável compositor, o que conhece a alma das mulheres como poucos e poeticamente nos traduz por vezes meigas, dóceis ou sensuais, submissas, guerreiras. Nunca mais ele saiu da minha vida. Não tinha dinheiro para comprar seus vinis, nem tinha eletrola para ouvi-los. Mas as fitas cassetes, que os amigos gravavam pra mim socializando a cultura dos anos 70/80, me permitiram acompanhá-lo de perto. Fui amadurecendo a relação. De tietê ortodoxa passei a uma devoradora de tudo o que fosse mais profundo sobre ele. Teses de mestrado, seus livros, análises de suas composições e o impacto político que causaram, seu engajamento contra a ditadura e obviamente sua vida particular com a Marieta Severo e as filhas Sílvia, Helena e Luísa.

Amadureci, tive filhos, casei (nessa ordem mesmo!) e ele continuou sendo um companheiro platônico, presente, sempre ao lado, vivo, que não escreve para mim, mas é assim que sinto-me quando ouço Querido Diário, do último CD – “Hoje topei com alguns conhecidos meus Me dão bom-dia, cheios de carinho Dizem para eu ter muita luz, ficar com Deus Eles têm pena de eu viver sozinho”. Envelhecemos juntos...

Não me limitei a ouvir suas músicas, a sonhar com seus olhos ou a devorar seus livros. No meu casamento, em dezembro de 2001,ao entrar na pequena capela no Chapéu Virado, em Mosqueiro, não foi a valsa de Félix Mendelssohn-Bartholdy que me recebeu, mas Eu te Amo (Ah, se já perdemos a noção da hora Se juntos já jogamos tudo fora Me conta agora como hei de partir). Na festinha de 50 anos (os amigos que lá estiveram lembram-se bem) a minha casa, em Canudos, transformou-se em um barzinho e eu, ilusoriamente, comemorei as cinco décadas ao lado dos filhos, marido, mãe, irmãos, amigos e do Chico. Alexandre Souza, o melhor cover dele, fez um show exclusivo e, de novo, me iludi que estava ao lado do Chico. Meus animais domésticos sempre receberam nomes em homenagem a ele: Buarque, o gato persa; Miúcha, a salsichinha; Bebel, a filha dela e mais recentemente a labrador, Lia, uma das netas mais novas do Chico.

Tudo isso (e muito mais!) talvez explique o que vivi dia 2 de março, no Teatro HSBC, em São Paulo. Tudo tão impensável até recentemente. Morar em Belém do Pará me deixava muito distante de um show do Chico.Em 2008, ao deixar minha cidade amada e juntar meus escombros no interior de SP não sabia que estava me aproximando da realização do sonho. Estou agora a pouco mais de 300km da maior cidade da América do Sul e lá tudo acontece, inclusive uma longa temporada de Chico Buarque. Em dezembro adquiri os convites (meu e da Anaterra Dantas) e comecei a navegar entre Genis e Sinhás.

E ele aconteceu! As palavras são pequenas diante da grandiosidade do que senti. Era ele em carne e osso a alguns metros de mim. Não fui para próximo do palco, aplaudi pouco, gritei quase nada, mas intimamente era um poço de emoções. Cada música mais antiga um trailer de um filme mofado do passado. Amores, amigos, situações adormecidas e lágrimas, muitas lágrimas. O homem de estatura mediana (mais pra baixo do que para alto); magro, de barriga muito pronunciada para o corpo esguio, de roupas escuras, sorriso largo, mas de pouca interatividade com o público estava à minha frente, a alguns poucos passos de mim. Não era a única a estar hipnotizada. Nas mesas, homens e mulheres, idosos ou jovens, sorviam cada estrofe e cantavam... cantavam... até sentiram a garganta seca ou o ar faltar. Eu sussurrava ...

Flutuava ao deixar o teatro, sem cólicas, sudoreses, apenas com a marca das lágrimas que borraram a maquiagem. Dia seguinte uma felicidade que deixei me envolver demorando mais do que o necessário na cama. Eu estive mesmo naquele lugar ou apenas vi um vídeo? Ainda relutava em acreditar. Felicidade ou dor em demasia nos deixam assim, em transe.

Podem trazer a camisa de força, o surto ainda não passou. Desde então SÓ ouço Chico!


TEXTO DE ROSISKA DARCY DE OLIVEIRA - Escritora

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

CARTA DE UM PROFESSOR

Em fase revoltada com os abusos sofridos pelos professores brasileiros, divulgo esta carta de colega do Rio Grande do Sul.



Porto Alegre (RS), 16 de julho de 2011.


Caro Juremir (CORREIO DO POVO/POA/RS)

Meu nome é Maurício Girardi. Sou Físico. Pela manhã sou vice-diretor no Colégio Estadual Piratini, em Porto Alegre, onde à noite leciono a disciplina de Física para os três anos do Ensino Médio. Pois bem, olha só o que me aconteceu: estou eu dando aula para uma turma de segundo ano. Era 21/06/11 e, talvez, “pela entrada do inverno”, resolveu também ir á aula uma daquelas “alunas-turista” que aparecem vez por outra para “fazer uma social”. Para rever os conhecidos.


Por três vezes tive que pedir licença para a mocinha para poder explicar o conteúdo que abordávamos.

Parece que está fazendo um favor em nos permitir um espaço de fala. Eis que após insistentes pedidos, estando eu no meio de uma explicação que necessitava de bastante atenção de todos, toca o celular da aluna, interrompendo todo um processo de desenvolvimento de uma ideia e prejudicando o andamento da aula.
Mudei o tom do pedido e aconselhei aquela menina que, se objetivo dela não era o de estudar, então que procurasse outro local, que fizesse um curso à distância ou coisa do gênero, pois ali naquela sala estavam pessoas que queriam aprender' e que o Colégio é um local aonde se vai para estudar. Então, a “estudante” quis argumentar, quando falei que não discutiria mais com ela.


Neste momento tocou o sinal e fui para a troca de turma. A menina resolveu ir embora e desceu as escadas chorando por ter sido repreendida na frente de colegas. De casa, sua mãe ligou para a Escola e falou com o vice-diretor da noite, relatando que tinha conhecidos influentes em Porto Alegre e que aquilo não iria ficar assim. Em nenhum momento procurou escutar a minha versão nem mesmo para dizer, se fosse o caso, que minha postura teria sido errada. Tampouco procurou a diretoria da Escola.


Qual passo dado pela mãe? Polícia Civil!... Isso mesmo!... Tive que comparecer no dia 13/07/11, na 8.ª (oitava Delegacia de Polícia de Porto Alegre) para prestar esclarecimentos por ter constrangido (“?”) uma adolescente (17 anos), que muito pouco frequenta as aulas e quando o faz é para importunar, atrapalhar seus colegas e professores'. A que ponto que chegamos? Isso é um desabafo!... Tenho 39 anos e resolvi ser professor porque sempre gostei de ensinar, de ver alguém se apropriar do conhecimento e crescer. Mas te confesso, está cada vez mais difícil.

Sinceramente, acho que é mais um professor que o Estado perde. Tenho outras opções no mercado. Em situações como essa, enxergamos a nossa fragilidade frente ao sistema. Como leitor da tua coluna, e sabendo que abordas com frequência temas relacionados à educação, ''te peço, encarecidamente, que
dediques umas linhas a respeito da violência que é perpetrada contra os professores neste país''.

Fica cristalina a visão de que, neste país:

Ø NÃO PRECISAMOS DE PROFESSORES


Ø NÃO PRECISAMOS DE EDUCAÇÃO


Ø AFINAL, PARA QUE SER UM PAÍS DE 1° MUNDO SE ESTÁ BOM ASSIM


Alguns exemplos atuais:

· Ronaldinho Gaúcho: R$ 1.400.000,00 por mês. Homenageado pela “Academia Brasileira de Letras"...

· Tiririca: R$ 36.000,00 por mês. Membro da “Comissão de Educação e Cultura do Congresso"...


TRADUZINDO: SÓ O SALÁRIO DO PALHAÇO, PAGA 30 PROFESSORES. PARA AQUELES QUE ACHAM QUE EDUCAÇÃO NÃO É
IMPORTANTE: CONTRATE O TIRIRICA PARA DAR AULAS PARA SEU FILHO.


Um funcionário da empresa Sadia (nada contra) ganha hoje o mesmo salário de um “ACT” ou um professor
iniciante, levando em consideração que, para trabalhar na empresa você precisa ter só o fundamental, ou
seja, de que adianta estudar, fazer pós e mestrado? Piso Nacional dos professores: R$ 1.187,00… Moral da
história: Os professores ganham pouco, porque “só servem para nos ensinar coisas inúteis” como: ler,
escrever, pensar, formar cidadãos produtivos, etc., etc., etc...

SUGESTÃO: Mudar a grade curricular das escolas, que passariam a ter as seguintes matérias:


Ø Educação Física: Futebol;


Ø Música: Sertaneja, Pagode, Axé;


Ø História: Grandes Personagens da Corrupção Brasileira;


Biografia dos Heróis do Big Brother; Evolução do Pensamento das "Celebridades"


Ø História da Arte: De Carla Perez a Faustão;


Ø Matemática: Multiplicação fraudulenta do dinheiro de campanha;


Ø Cálculo: Percentual de Comissões e Propinas;


Ø Português e Literatura?... Para quê?...


Ø Biologia, Física e Química: Excluídas por excesso de complexidade.


Está bom assim? ... Eu quero mais!...


ESSE É O NOSSO BRASIL...


Vejam o absurdo dos salários no Rio de Janeiro (o que não é diferente do resto do Brasil)


Ø BOPE - R$ 2.260,00....................... para ........ Arriscar a vida;


Ø Bombeiro - R$ 960,00.....................para ........ Salvar vidas;


Ø Professor - R$ 728,00.....................para ........ Preparar para a vida;


Ø Médico - R$ 1.260,00......................para ........ Manter a vida;


E o Deputado Federal?...R$ 26.700,00 (fora as mordomias, gratificações, viagens internacionais, etc., etc., etc., para FERRAR com a vida de todo mundo, encher o bolso de dinheiro e ainda gratificar os seus “bajuladores” apaniguados naquela manobrinha conhecida do “por fora vazenildo”!).


IMPORTANTE:

Faça parte dessa “corrente patriótica” um instrumento de conscientização e de sensibilização dos nossos representantes eleitos para as Câmaras Municipais, Assembleias Estaduais e Congresso Nacional e, principalmente, para despertar desse “sono egoísta” as autoridades que governam este nosso maravilhoso país, pois eles estão inertes, confortavelmente sentados em suas “fofas” poltronas, de seus luxuosos gabinetes climatizados, nem aí para esse povo brasileiro. Acorda Brasília, acorda Brasil!...



P.S.: Divulgue logo esta carta para todos os seus contatos. Infelizmente é o mínimo que, no momento, podemos fazer, mas já é o bastante para o Brasil conhecer essa "pouca vergonha". As próximas eleições estão chegando!

domingo, 26 de fevereiro de 2012

REDAÇÃO CAMPEÃ NO CONCURSO UNESCO

Uma jovem com idéias que não passam pelas mentes de muitos jovens.

REDAÇÃO DE ESTUDANTE CARIOCA VENCE CONCURSO DA UNESCO COM 50.000 PARTICIPANTES

Imperdível para amantes da língua portuguesa, e claro também para Professores.
Isso é o que eu chamo de jeito mágico de juntar palavras simples para formar belas frases.

Tema:'Como vencer a pobreza e a desigualdade'
Por Clarice Zeitel Vianna Silva
UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro - Rio de Janeiro - RJ

'PÁTRIA MADRASTA VIL'

Onde já se viu tanto excesso de falta?
Abundância de inexistência...
Exagero de escassez...
Contraditórios?
Então aí está!
O novo nome do nosso país!
Não pode haver sinônimo melhor para BRASIL.
Porque o Brasil nada mais é do que o excesso de falta de caráter, a abundância de inexistência de solidariedade, o exagero de escassez de responsabilidade.
O Brasil nada mais é do que uma combinação mal engendrada - e friamente sistematizada - de contradições.
Há quem diga que 'dos filhos deste solo és mãe gentil', mas eu digo que não é gentil e, muito menos, mãe.
Pela definição que eu conheço de MÃE, o Brasil, está mais para madrasta vil.
A minha mãe não 'tapa o sol com a peneira.'
Não me daria, por exemplo, um lugar na universidade sem ter-me dado uma bela formação básica.
E mesmo há 200 anos atrás não me aboliria da escravidão se soubesse que me restaria a liberdade apenas para morrer de fome. Porque a minha mãe não iria querer me enganar, iludir.
Ela me daria um verdadeiro Pacote que fosse efetivo na resolução do problema, e que contivesse educação + liberdade + igualdade. Ela sabe que de nada me adianta ter educação pela metade, ou tê-la aprisionada pela falta de oportunidade, pela falta de escolha, acorrentada pela minha voz-nada-ativa.
A minha mãe sabe que eu só vou crescer se a minha educação gerar liberdade e esta, por fim, igualdade.
Uma segue a outra...
Sem nenhuma contradição!
É disso que o Brasil precisa: mudanças estruturais, revolucionárias, que quebrem esse sistema-esquema social montado; mudanças que não sejam hipócritas, mudanças que transformem!
A mudança que nada muda é só mais uma contradição.
Os governantes (às vezes) dão uns peixinhos, mas não ensinam a pescar.
E a educação libertadora entra aí.
O povo está tão paralisado pela ignorância que não sabe a que tem direito.
Não aprendeu o que é ser cidadão.
Porém, ainda nos falta um fator fundamental para o alcance da igualdade: nossa participação efetiva; as mudanças dentro do corpo burocrático do Estado não modificam a estrutura.
As classes média e alta - tão confortavelmente situadas na pirâmide social - terão que fazer mais do que reclamar (o que só serve mesmo para aliviar nossa culpa)...
Mas estão elas preparadas para isso?
Eu acredito profundamente que só uma revolução estrutural, feita de dentro pra fora e que não exclua nada nem ninguém de seus efeitos, possa acabar com a pobreza e desigualdade no Brasil.
Afinal, de que serve um governo que não administra?
De que serve uma mãe que não afaga?
E, finalmente, de que serve um Homem que não se posiciona?
Talvez o sentido de nossa própria existência esteja ligado, justamente, a um posicionamento perante o mundo como um todo. Sem egoísmo.
Cada um por todos.
Algumas perguntas, quando auto-indagadas, se tornam elucidativas.
Pergunte-se: quero ser pobre no Brasil?
Filho de uma mãe gentil ou de uma madrasta vil?
Ser tratado como cidadão ou excluído?
Como gente... Ou como bicho?

Premiada pela UNESCO, Clarice Zeitel Vianna Silva, 26, estudante que termina Faculdade de Direito da UFRJ em julho, concorreu com outros 50 mil estudantes universitários. Ela acaba de voltar de Paris, onde recebeu um prêmio da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) por uma redação sobre 'Como vencer a pobreza e a desigualdade.' A redação de Clarice intitulada 'Pátria Madrasta Vil', foi incluída num livro, com outros cem textos selecionados no concurso. A publicação está disponível no site da Biblioteca Virtual da UNESCO.

Por favor, divulguem.

Aos poucos iremos acordar este "BraSil".

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Luiza para Presidente

Luíza foi ao Canadá para provar que a opinião pública brasileira virou geleia. A frase de um comercial imobiliário na Paraíba que se espalhou pelo Brasil inteiro é um divisor de águas na cultura de massa. Até então, uma mensagem insignificante podia ganhar dimensão pública por contágio. A grande novidade é que, depois de Luíza, o contágio não precisa mais de mensagem. Nem insignificante. Em questão de horas, um país inteiro passou a repetir essas seis palavras: "Menos Luíza, que está no Canadá".
Qual era a charada? Nenhuma. Que código, que sentido subliminar, ou pelo menos que estranheza justificava tão irresistível propagação? Ninguém saberia responder. Mas nem seria preciso resposta, porque ninguém perguntava. O que explicava a repetição era a repetição. O espetáculo da inércia mental nunca tinha sido tão exuberante. Quase meio século atrás, outras seis palavras aparentemente sem sentido se espalharam pelo mundo: "Lucy in the sky with diamonds." A diferença é que John Lennon não estava tentando vender apartamento para emergentes que podem mandar a filha estudar no Canadá. Estava escrevendo um capítulo da contracultura — e Lucy teria despencado do céu em dois minutos se o seu único atrativo fosse uma virose no Twitter.
Na época de Lucy, Luíza não seria nada. No Brasil de hoje, ela poderia ser presidente da República. O furacão Luíza veio expor, de forma quase cruel, a precariedade dos símbolos que o senso comum consagra. A menina real, Luíza Rabello, não tem nada com isso — ou melhor, não tinha. Agora terá, pela importância que o público passou a lhe atribuir a partir de... Nada. Circularam rumores de que Luíza estará na próxima edição do Big Brother. Se ela pensar grande, poderá ir direto para Brasília. E nem precisará de um padrinho popular, que repita seu nome exaustivamente aos quatro ventos. A internet já fez isso por ela, sem precisar de palanque, voz rouca, suor e lágrimas providenciais.
Fora isso, no Brasil de 2012, os requisitos para se estar no BBB ou na Presidência da República são até parecidos. Na Presidência convém falar menos. E, se não tiver nada de relevante a dizer, não tem problema. Basta espalhar no Twitter que Luíza do Canadá é uma grande gestora, que o povo acredita. Mesmo se ela tiver sido apenas uma militante política com passagem opaca por cargos públicos, todos graças a indicações partidárias? Perfeitamente. Os fatos, hoje, são um detalhe. O que o senso comum respeita mesmo é a repetição.
E não se preocupe, Luíza, se você gastar todo o seu primeiro ano de governo enxugando gelo do seu próprio caos administrativo. Mesmo se você bater o recorde de ministros demitidos por acusação de fraude. Aquela imagem da supergerente que sabia o que se passava em todos os ministérios serviu só para te eleger. Agora você é uma paraquedista, recém- chegada do Canadá, pronta para passar o país a limpo com o detergente da ética.
Se a faxina bombar no Twitter, você pode até terminar o seu primeiro ano de mandato com aprovação recorde. Aí você poderá continuar amiga de todos esses ministros que você nomeou e tentou proteger, mesmo depois de acusados de garfar o país. Quando eles caírem de podres, elogie- os publicamente e mantenha as boquinhas com os grupos deles. Ninguém vai notar. "Fisiologismo" não tem a menor chance no Twitter. Enquanto Luíza prepara sua candidatura, poderá aprender um pouco observando o governo atual. Tratase de um governo detalhista. Se a opinião pública acredita nas mensagens que se repetem — e isso já é uma mão na roda — por que não ir além, escolhendo as mensagens que ela deve repetir?
Isso é muito importante, porque a imprensa livre, além de bisbigra lhoteira, se mete em assuntos demais, o que pode confundir a mensagem que o povo precisa ouvir. As manchetes dos últimos seis meses, totalmente descontroladas, quase puseram o governo popular no banco dos réus — com histórias soturnas de uso sistemático da máquina pública para engordar esquemas políticos. Mas os ideólogos do governo não descansarão enquanto não protegerem o país dessas linhas cruzadas da mídia livre. E Luíza está com sorte, porque acaba de ser lançada uma grande ideia, para ela anotar em seu caderno de campanha.
Em discurso no Fórum Social Mundial, o ministro da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, defendeu a criação de uma mídia para a classe C. "Toda essa gente que emerge ficará à mercê da ideologia disseminada pelos veículos de comunicação existentes?", questionou o ministro, conclamando o governo a "radicalizar a democracia" parindo uma mídia nova. A plateia exultou com a proposta governamental de organizar melhor o que a opinião pública deve assimilar, ou melhor, repetir. Os dias que se seguiram foram de grande excitação entre os companheiros. Todo mundo festejou a ideia. Menos Dilma, que estava em Cuba.

(Guilherme Fiuza - O Globo - 04 de fevereiro de 2012)

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Ano novo, cara nova...

Mudei a cara do blog como uma metáfora do que eu quero para 2012: um ano realmente novo!!!

Ano novo implica mudança de atitude. Chorei demais em 2011 e cansei de ser vítima de mim mesma. Quero um 2012 de mais atitude!!! Nunca fui mulher de desistir dos meus sonhos, cansei de fugir dos problemas, enfim. Estou partindo para dentro, para a porrada!!! Agora virei a SUPERANA!!!

O papel de parede está família pois estou voltada para meus bebês, para a minha casa e para mim. Estou parindo, mojando, amamentando, lendo e escrevendo... Voltada para as crias. O meu pequeno castelo é meu e ninguém tasca.

Giovaninha vai chegar em abril e quero estar com uma cuca boa para ela vir a esse mundo com toda a alegria e amor que puder receber. Vai ser meu grande presente de 2012. Deus me mandou essa vidinha para eu cuidar com o melhor de mim. Sigamos os nossos caminhos e jornadas com a aprendizagem que merecemos ter.

E no meio do caminho, tem a minha tese, que também vou preparar, gerir, alimentar, com o melhor de mim. Gravidez de ideias, de pesquisa e de um pouco de academicismo, porque ciência alimenta a alma e o espírito. De quebra, tomara que eu consiga conribuir para um Brasil melhor, com educação de mais qualidade.

Esses são os meus desejos para 2012! O resto são portos de passagem...

GIOVANA, BUNITINHA, ANO NOVO...

Eu estava pensando em uma coisa bem bonita para escrever na primeira postagem do ano. Eis que minha amiga Candida me deu este presente que, abaixo, divido com vocês. Para que ainda não sabe, meu neném é menina. Seu nome será Giovana.

Feliz Ano Novo para todos vocês!!!

Aninha



GIOVANA, BUNITINHA, ANO NOVO...

2011, 2012...Giovana, Bunitinha - uma se preparando pra chegar neste mundão de meu Deus, outra se preparando pra partir; Uma é filha, outra mãe; Uma não sabe nada, a outra sabe tudo o que precisou saber pra construir sua vida e merecer tanto amor como tem dos seus; Uma é metade, 5 meses na barriga de Aninha se formando aos pouquinhos - a outra é inteira numa família linda e amorosa, cabelinhos brancos e cheirosos, pele rosada e bem cuidada; Uma vai chegar com tudo, a outra vai deixar tudo e reencontrar seu grande amor; Uma tem tempo certo pra chegar - outra tem tempo incerto pra partir. Bom que seja assim. O ciclo da vida ser imprevisível.

Mudanças acontecem o tempo todo, umas boas, outras ótimas. Mudar é sempre bom.
Somos obrigados a reorganizar a vida do "zero", virar as gavetas, doar muitas coisas, perder outras tantas, achar muitas outras.
Minhas caixas da mudança foram uma surpresa constante. Nunca sabia se, ao abrir cada uma delas que foi embalada por meu amado marido, iria encontrar um sapato ou umas xícaras. Assim mesmo.
Ele foi eficiente quanto ao aproveitamento dos espaços, e onde cabia um dedo mindinho qualquer coisa era encaixada.
Enquanto isso o ciúme corre solto. Teve até amiga querendo alugar apartamento no mesmo prédio, pra não perder na concorrência da convivência. Bobagem. Amizade boa que nem a nossa não tem concorrência - é única e especial.

Comemoramos juntas a vida, a vizinhança, os segredos. Brindamos com bolo, espumante, sopa de lentilhas, whisky, macarrão, mousse de maracujá e, mais bacana, abraços amorosos e boa prosa.

Bunitinha ronca em sua cama branquinha, relaxada num sono reparador, depois de semana agitada.

Giovana mexe e balanga o barrigão de sua mama, que não sabe se leva Johan pra ver os fogos do reveillon ou se bota Artur pra dormir.

Aninha e Cláudia, mãe e filha, amigas amadas que merecem minha homenagem de ano novo. Uma pertinho, 4 andares de distância de elevador - outra lonjão, 500km de estrada ruim e esburacada. No meu coração emboladas no mesmo carinho.

Um 2012 abençoado, amigas!