Eu e Johan em casa, sexta-feira à noite, lendo Os Lusíadas em quadrinhos.
Eu, toda boba, explico a ele de que trata o livro, conto para ele quem é Camões, falo da viagem da Vasco da Gama...
Na explicação, eu digo:
- A primeira publicação de Os Lusíadas foi de 1572. Os portugueses estavam procurando o caminho das Índias...
- Por quê, mãe, eles queriam ver a novela?...
Sem comentários...
sábado, 31 de julho de 2010
Pérolas de Johan
terça-feira, 27 de julho de 2010
DE MÃE PRA MÃES
Minha amiga Candida é uma mulher admirável. Ela pinta, borda, costura e cuida dos filhos como ninguém.Um dia, quando eu crescer, quero ser igual a ela: bacanérrima, com uma casa linda, que a gente não tem vontade de ir embora nunca. Tem quatro filhos lindos e maravilhosos: Lis, Pedro, Hugo e Artur (este último me inspirou na escolha do nome do meu caçula). Foi a Can que me ensinou que mulher quer, no fundo, poder ser Amélia, para só ficar em casa com os filhos, com a casa e com um amor (e eu demorei muito tempo para aprender isso). Quando meu pai morreu, ela se despencou de BH e deixou tudo para trás, só para me dar colo por uma noite. Amiga, irmã, mãezona, a Can se tornou minha amiga de infância numa noite, quando não dormimos só para contar uma para a outra tudo o que a vida nos ensinou. E olha que isso foi no primeiro dia em que a gente se viu, numa espécie de "amor de amigo à primeira vista".
Hoje, quando eu abri seu blog, eu vi esse post. Chorei muito quando li, por motivos óbvios. É que a minha amiga-maravilha, além de tudo o que eu já falei, é mãe de dois skatistas, dois meninos alados que voam nas noites de Belo Horizonte, procurando superar seus limites e seus recordes...
Dedico hoje o meu post a Can, e às mães de outros meninos voadores que insistiram em nos deixar mais cedo...
DE MÃE PRA MÃES (Candida Najar)
Não há como negar que em coração de mãe cabe um mundo inteiro, mas não tem nenhum canto - e nem terá nunca - que caiba compreender e aceitar morte de filho. Essa possibilidade não deveria existir se tudo fosse tão perfeito quanto gostaríamos. Deus falhou aí, deixando margem pra que uma ruindade tão grande acontecesse a tantas mulheres neste vasto mundão.
Um anjo skatista deu de partir cedo demais. Chorei até desidratar e perder a voz, porque me coloco no lugar da mãe dele e não consigo acreditar que ele 'tava lá, fazendo uma coisa tão bacana, voando no chão, e vem alguém pra acabar com a alegria do menino, da mãe do menino, do pai do menino, dos amigos do menino, de tantos meninos e tantas mães dos meninos que só querem sentir o vento na cara, testar o equilíbrio em cima daquela prancha de madeira, ralar os cotovelos e joelhos pra, quando chegarem em casa esfolados, a mãe assoprar e fazer curativos. Se for muito grave os amigos já ligam do hospital pra mãe ir lá ver o médico colocar ombro no lugar, engessar braços e mãos, marcar cirurgia pra remendar o que quebrou na última queda...
Cada um precisa ter mãe pra dar apoio quando é machucado às vésperas de uma competição e, claro, não consegue lidar com a frustração sozinho. Aí aparece um colo quentinho pra acolher, mãos protetoras pra fazer um chá e tempo disponível pra assistir juntos filmes "nada a ver", mas cada etapa destas faz parte do apoio moral pro anjo melhorar.
Cada uma de nós precisa tê-los pra saber a delícia que é o amor incondicional, infinito, sem ressalvas - apesar dos sobressaltos.
Ver nossos meninos detonados e cuidar deles é o máximo que uma mãe pode suportar.
Despedir pra sempre nunca.
Mas às vezes é preciso nadar contra a correnteza, buscar forças sabe-se lá de onde pra agradecer o tempo que nos é dado na convivência com nossos filhos. A alegria que vivemos com eles ninguém nem nada poderá nunca apagar, nem comparar, nem esquecer.
Que sua mãe seja abençoada com a força e a coragem de todas as mães, Rafael. E que o amor dela por você seja a mola propulsora pra que a saudade seja menos doída com o passar do tempo. Toque canções de ninar pra ela, ainda que em sonho. Agora ela é quem tá precisando de colo e chá quente, de quem assopre a ferida que sua partida deixou.
Vá em paz, anjo skatista! Fique em paz, mãe do menino voador...
Hoje, quando eu abri seu blog, eu vi esse post. Chorei muito quando li, por motivos óbvios. É que a minha amiga-maravilha, além de tudo o que eu já falei, é mãe de dois skatistas, dois meninos alados que voam nas noites de Belo Horizonte, procurando superar seus limites e seus recordes...
Dedico hoje o meu post a Can, e às mães de outros meninos voadores que insistiram em nos deixar mais cedo...
DE MÃE PRA MÃES (Candida Najar)
Não há como negar que em coração de mãe cabe um mundo inteiro, mas não tem nenhum canto - e nem terá nunca - que caiba compreender e aceitar morte de filho. Essa possibilidade não deveria existir se tudo fosse tão perfeito quanto gostaríamos. Deus falhou aí, deixando margem pra que uma ruindade tão grande acontecesse a tantas mulheres neste vasto mundão.
Um anjo skatista deu de partir cedo demais. Chorei até desidratar e perder a voz, porque me coloco no lugar da mãe dele e não consigo acreditar que ele 'tava lá, fazendo uma coisa tão bacana, voando no chão, e vem alguém pra acabar com a alegria do menino, da mãe do menino, do pai do menino, dos amigos do menino, de tantos meninos e tantas mães dos meninos que só querem sentir o vento na cara, testar o equilíbrio em cima daquela prancha de madeira, ralar os cotovelos e joelhos pra, quando chegarem em casa esfolados, a mãe assoprar e fazer curativos. Se for muito grave os amigos já ligam do hospital pra mãe ir lá ver o médico colocar ombro no lugar, engessar braços e mãos, marcar cirurgia pra remendar o que quebrou na última queda...
Cada um precisa ter mãe pra dar apoio quando é machucado às vésperas de uma competição e, claro, não consegue lidar com a frustração sozinho. Aí aparece um colo quentinho pra acolher, mãos protetoras pra fazer um chá e tempo disponível pra assistir juntos filmes "nada a ver", mas cada etapa destas faz parte do apoio moral pro anjo melhorar.
Cada uma de nós precisa tê-los pra saber a delícia que é o amor incondicional, infinito, sem ressalvas - apesar dos sobressaltos.
Ver nossos meninos detonados e cuidar deles é o máximo que uma mãe pode suportar.
Despedir pra sempre nunca.
Mas às vezes é preciso nadar contra a correnteza, buscar forças sabe-se lá de onde pra agradecer o tempo que nos é dado na convivência com nossos filhos. A alegria que vivemos com eles ninguém nem nada poderá nunca apagar, nem comparar, nem esquecer.
Que sua mãe seja abençoada com a força e a coragem de todas as mães, Rafael. E que o amor dela por você seja a mola propulsora pra que a saudade seja menos doída com o passar do tempo. Toque canções de ninar pra ela, ainda que em sonho. Agora ela é quem tá precisando de colo e chá quente, de quem assopre a ferida que sua partida deixou.
Vá em paz, anjo skatista! Fique em paz, mãe do menino voador...
quinta-feira, 22 de julho de 2010
Meus pratinhos...
Que eu sou equilibradora de pratos quem convive comigo já sabe, mas sempre tem um pratinho ou outro que a gente deixa cair no chão. Por exemplo, esta semana eu chutei a dieta, na ansiedade de dar conta logo dos artigos que tenho de entregar até o fim das férias. Não dei conta também das coisas chatas de Detran, de médico, de eletricista, nada disso. Aproveitei o máximo meu tempo com minha família e amigos, na expectativa de recarregar minhas baterias.
Na foto, os meus meninos... meus pratinhos que eu equilibro com tanto carinho... Posso deixar cair os outros, estes eu seguro bem pertinho de mim...
Auto-retrato do Artista aos 56 anos
Eu sou fã de Graciliano Ramos. Um dos textos dele que eu adoro trabalhar com meus alunos é esse "Auto-retrato". Acho que ele tem identidade, e procuro ensinar isso às minhas turmas: nossas escolhas nos definem e dizem quem somos... Para provocar, segue abaixo, antes da pequena autobiografia, um pequeno pensamento disponível no site oficial do poeta.
"Começamos oprimidos pela sintaxe e acabamos às voltas
com a Delegacia de Ordem Política e Social, mas, nos
estreitos limites a que nos coagem a gramática e a lei,
ainda nos podemos mexer"
Auto-Retrato do Artista aos 56 anos
Nasceu em 1892, em Quebrangulo [paroxítono], Alagoas. Casado duas vezes, tem sete filhos. Altura, 1,75. Sapato n.º 41. Colarinho n.º 39. Prefere não andar. Não gosta de vizinhos. Detesta rádio, telefone e campainhas. Tem horror às pessoas que falam alto. Usa óculos. Meio calvo. Não tem preferência por nenhuma comida. Indiferente à música. Não gosta de frutas nem de doces. Sua leitura predileta: a Bíblia. Escreve Caetés com 34 anos de idade. Não dá preferência a nenhum dos seus livros publicados. Gosta de beber aguardente. É ateu. Indiferente à Academia. Odeia a burguesia. Adora crianças. Romancistas brasileiros que mais lhe agradam: Manoel António de Almeida, Machado de Assis, Jorge Amado, José Lins do Rego e Rachel de Queiroz. Gosta de palavrões escritos e falados. Deseja a morte do capitalismo. Escreve seus livros pela manhã. Fuma cigarros Selma (três maços por dia). É inspetor de ensino, trabalha no Correio da Manhã. Apesar de o acharem pessimista, discorda de tudo. Só tem cinco ternos de roupa, estragados. Refaz seus romances várias vezes. Esteve preso duas vezes. É-lhe indiferente estar preso ou solto. Escreve à mão. Seus maiores amigos: Capitão Lobo, Cubano, José Lins do Rego e José Olympio. Tem poucas dívidas. Quando prefeito de uma cidade do interior, soltava os presos para construírem estradas. Espera morrer com 57 anos.
Notas:Capitão Lobo comandava o quartel em que esteve preso no Recife, 1936; Cubano foi um ladrão que ele conheceu na cadeia. (Ver Memórias do Cárcere, título idêntico ao de Camillo Castello Branco). Graciliano Ramos morreu aos 61 anos de idade.
"Começamos oprimidos pela sintaxe e acabamos às voltas
com a Delegacia de Ordem Política e Social, mas, nos
estreitos limites a que nos coagem a gramática e a lei,
ainda nos podemos mexer"
Auto-Retrato do Artista aos 56 anos
Nasceu em 1892, em Quebrangulo [paroxítono], Alagoas. Casado duas vezes, tem sete filhos. Altura, 1,75. Sapato n.º 41. Colarinho n.º 39. Prefere não andar. Não gosta de vizinhos. Detesta rádio, telefone e campainhas. Tem horror às pessoas que falam alto. Usa óculos. Meio calvo. Não tem preferência por nenhuma comida. Indiferente à música. Não gosta de frutas nem de doces. Sua leitura predileta: a Bíblia. Escreve Caetés com 34 anos de idade. Não dá preferência a nenhum dos seus livros publicados. Gosta de beber aguardente. É ateu. Indiferente à Academia. Odeia a burguesia. Adora crianças. Romancistas brasileiros que mais lhe agradam: Manoel António de Almeida, Machado de Assis, Jorge Amado, José Lins do Rego e Rachel de Queiroz. Gosta de palavrões escritos e falados. Deseja a morte do capitalismo. Escreve seus livros pela manhã. Fuma cigarros Selma (três maços por dia). É inspetor de ensino, trabalha no Correio da Manhã. Apesar de o acharem pessimista, discorda de tudo. Só tem cinco ternos de roupa, estragados. Refaz seus romances várias vezes. Esteve preso duas vezes. É-lhe indiferente estar preso ou solto. Escreve à mão. Seus maiores amigos: Capitão Lobo, Cubano, José Lins do Rego e José Olympio. Tem poucas dívidas. Quando prefeito de uma cidade do interior, soltava os presos para construírem estradas. Espera morrer com 57 anos.
Notas:Capitão Lobo comandava o quartel em que esteve preso no Recife, 1936; Cubano foi um ladrão que ele conheceu na cadeia. (Ver Memórias do Cárcere, título idêntico ao de Camillo Castello Branco). Graciliano Ramos morreu aos 61 anos de idade.
domingo, 18 de julho de 2010
Medo
Raymond Carver (1938-88), escritor e poeta americano, publicou em 1981, entre outros, a coletânea de contos "Iniciantes" ("What we talk about when we talk about Love", trad. Rubens Figueiredo, Companhia das Letras). A Ilustríssima, da Folha de São Paulo, troxe na data de hoje umas coisas bacanérrimas que ele escreveu. Eu me identifiquei com o poema Medo. Se você gostar, vá em http://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/768049-quatro-poemas-de-raymond-carver.shtml
Medo
Medo de ver a polícia estacionar à minha porta.
Medo de dormir à noite.
Medo de não dormir.
Medo de que o passado desperte.
Medo de que o presente alce voo.
Medo do telefone que toca no silêncio da noite.
Medo de tempestades fulminantes.
Medo da faxineira que tem uma pinta no queixo!
Medo de cães que supostamente não mordem.
Medo da ansiedade!
Medo de ter que identificar o corpo de um amigo morto.
Medo de ficar sem dinheiro.
Medo de ter demais, mesmo que ninguém vá acreditar nisso.
Medo de perfis psicológicos.
Medo de me atrasar e medo de ser o primeiro a chegar.
Medo de ver a letra dos meus filhos em envelopes.
Medo de que eles morram antes de mim, e que eu me sinta culpado.
Medo de ter que viver com minha mãe em sua velhice, e na minha.
Medo da confusão.
Medo de que esse dia acabe em um bilhete infeliz.
Medo de acordar e ver que você partiu.
Medo de não amar e medo de não amar o bastante.
Medo de que o que amo se prove letal para aqueles que amo.
Medo da morte.
Medo de viver demais.
Medo da morte.
Já disse isso.
Medo
Medo de ver a polícia estacionar à minha porta.
Medo de dormir à noite.
Medo de não dormir.
Medo de que o passado desperte.
Medo de que o presente alce voo.
Medo do telefone que toca no silêncio da noite.
Medo de tempestades fulminantes.
Medo da faxineira que tem uma pinta no queixo!
Medo de cães que supostamente não mordem.
Medo da ansiedade!
Medo de ter que identificar o corpo de um amigo morto.
Medo de ficar sem dinheiro.
Medo de ter demais, mesmo que ninguém vá acreditar nisso.
Medo de perfis psicológicos.
Medo de me atrasar e medo de ser o primeiro a chegar.
Medo de ver a letra dos meus filhos em envelopes.
Medo de que eles morram antes de mim, e que eu me sinta culpado.
Medo de ter que viver com minha mãe em sua velhice, e na minha.
Medo da confusão.
Medo de que esse dia acabe em um bilhete infeliz.
Medo de acordar e ver que você partiu.
Medo de não amar e medo de não amar o bastante.
Medo de que o que amo se prove letal para aqueles que amo.
Medo da morte.
Medo de viver demais.
Medo da morte.
Já disse isso.
Sentimento do Mundo
Vejo a foto do menino sendo dilacerado pela mãe, em Veja, e penso no que o fanatismo religioso é capaz de realizar pelo mundo. Sinto uma dor de angústia, alimentada por uma enorme sensação de passividade (por que não dizer nulidade?) frente a tudo que me incomoda. Longe o menino chora, em outra cidade talvez, talvez em outro mundo.
Vou dormir. Não durmo. Acendo a luz. Faz frio. Leio. Lá fora vejo a chuva caindo e os carros passando na rua. Do meu apartamento, no térreo, vejo também pessoas, coadjuvantes diárias do meu filme. Sempre que posso, de propósito, faço a mesma coisa: acendo a luz do abajur, sento no sofá da sala e me escondo por trás das cortinas, mas sempre deixando frestas. Enquanto quem está do lado de fora não me vê, transformo as pessoas em companheiras mudas da minha solidão. Uso as pessoas para não me reconhecer sozinha. Talvez o mundo não tenha jeito e os suicidas tenham razão.
Drummond. Como nunca sei o que ler de Drummond, pego sempre a mesma capa verde, papel que imita folhas da bíblia, coleção da Aguillar. Drummond é a minha bíblia. Panegírico das horas insones. Mas a recorrência da foto do menino é mais forte. A imagem não me sai da cabeça. Nem a poesia conseguiu me sedar nesse momento de vaivéns. Meu Deus, por que me abandonaste?
E comecei a refletir sobre as imagens que me vinham à memória. Longe o menino chora... Será que longe? Da minha fresta vejo uma família vagando nas ruas: pai, mãe, dois filhos, um deles bebê. É madrugada, faz frio... O menino do outro lado do mundo chora e olha em meus olhos. Aquela família também chora, mas um choro silencioso, resignado, esquecido. Senti culpa. Culpa por me indignar com a foto do outro lado do mundo e culpa por não me importar com a dor e o sofrimento que até hoje bateram à minha porta. No fundo, quem chora aqui sou eu.
Continuo com os meus olhos fixos na janela a ver a imagem da dilaceração do ser humano na minha frente. A família foi embora. Do outro lado da rua, um chafariz iluminado, colorido. A imagem é bonita, poética, mas talvez nem a poesia me valha em tempos de indulgência. Flores amarelas e medrosas ainda nascem na minha janela.
Vou dormir. Não durmo. Acendo a luz. Faz frio. Leio. Lá fora vejo a chuva caindo e os carros passando na rua. Do meu apartamento, no térreo, vejo também pessoas, coadjuvantes diárias do meu filme. Sempre que posso, de propósito, faço a mesma coisa: acendo a luz do abajur, sento no sofá da sala e me escondo por trás das cortinas, mas sempre deixando frestas. Enquanto quem está do lado de fora não me vê, transformo as pessoas em companheiras mudas da minha solidão. Uso as pessoas para não me reconhecer sozinha. Talvez o mundo não tenha jeito e os suicidas tenham razão.
Drummond. Como nunca sei o que ler de Drummond, pego sempre a mesma capa verde, papel que imita folhas da bíblia, coleção da Aguillar. Drummond é a minha bíblia. Panegírico das horas insones. Mas a recorrência da foto do menino é mais forte. A imagem não me sai da cabeça. Nem a poesia conseguiu me sedar nesse momento de vaivéns. Meu Deus, por que me abandonaste?
E comecei a refletir sobre as imagens que me vinham à memória. Longe o menino chora... Será que longe? Da minha fresta vejo uma família vagando nas ruas: pai, mãe, dois filhos, um deles bebê. É madrugada, faz frio... O menino do outro lado do mundo chora e olha em meus olhos. Aquela família também chora, mas um choro silencioso, resignado, esquecido. Senti culpa. Culpa por me indignar com a foto do outro lado do mundo e culpa por não me importar com a dor e o sofrimento que até hoje bateram à minha porta. No fundo, quem chora aqui sou eu.
Continuo com os meus olhos fixos na janela a ver a imagem da dilaceração do ser humano na minha frente. A família foi embora. Do outro lado da rua, um chafariz iluminado, colorido. A imagem é bonita, poética, mas talvez nem a poesia me valha em tempos de indulgência. Flores amarelas e medrosas ainda nascem na minha janela.
terça-feira, 13 de julho de 2010
Crime e Castigo
de Lya Luft
Tomo emprestado o título do romance do russo Dostoiévski, para comentar a multiplicação dos crimes nesta cultura torta, desde os pequenos "crimes" cotidianos – falta de respeito entre pais e filhos, maus-tratos a empregados, comportamento impensável de políticos e líderes, descuido com nossa saúde, segurança, educação – até os verdadeiros crimes: roubos, assaltos, assassinatos, tão incrivelmente banalizados nesta sociedade enferma. A crise de autoridade começa em casa, quando temos medo de dar ordens e limites ou mesmo castigos aos filhos, iludidos por uma série de psicologismos falsos que pululam como receitas de revista ou programa matinal de televisão e que também invadiram parte das escolas. Crianças e adolescentes saudáveis são tratados a mamadeira e cachorro-quente por pais desorientados e receosos de exercer qualquer comando. Jovens infratores são tratados como imbecis, embora espertos, e como inocentes, mesmo que perversos estupradores, frios assassinos, traficantes e ladrões comuns. São encaminhados para os chamados centros de ressocialização, onde nada aprendem de bom, mas muito de ruim, e logo voltam às ruas para continuar seus crimes.
Estamos levando na brincadeira a questão do erro e do castigo, ou do crime e da punição. A banalização da má-educação em casa e na escola, e do crime fora delas, é espantosa e tem consequências dramáticas que hoje não conseguimos mais avaliar. Sem limites em casa e sem punição de crimes fora dela, nada vai melhorar. Antes de mais nada, é dever mudar as leis – e não é possível que não se possa mudar uma lei, duas leis, muitas leis. Hoje, logo, agora! O ensino nas últimas décadas foi piorando, em parte pelo desinteresse dos governos e pelo péssimo incentivo aos professores, que ganham menos do que uma empregada doméstica, em parte como resultado de "diretrizes de ensino" que tornaram tudo confuso, experimental, com alunos servindo de cobaias, professores lotados de teorias (que também não funcionam). Além disso, aqui e ali grupos de ditos mestres passaram a se interessar mais por politicagem e ideologia do que pelo bem dos alunos e da própria classe. Não admira que em alguns lugares o respeito tenha sumido, os alunos considerem com desdém ou indignação a figura do antigo mestre e ainda por cima vivam, em muitas famílias, a dor da falta de pais: em lugar deles, como disse um jovem psicólogo, eles têm em casa um gatão e uma gatinha. Dispensam-se comentários.
Autoridade, onde existe, é considerada atrasada, antiquada e chata. Se nas famílias e escolas isso é um problema, na sociedade, com nossas leis falhas, sem rigor nem coerência, isso se torna uma tragédia. Não me falem em policiais corruptos, pois a maioria imensa deles é honrada, ganha vergonhosamente pouco, arrisca e perde a vida, e pouco ligamos para isso. Eu penso em leis ruins e em prisões lotadas de gente em condições animalescas. Nesta nossa cultura do absurdo, crimes pequenos levam seus autores a passar anos num desses lixões de gente chamados cadeias (muitas vezes sem sequer ter havido ainda julgamento e condenação), enquanto bandidos perigosos entram por uma porta de cadeia e saem pela outra, para voltar a cometer seus crimes, ou gozam na cadeia de um conforto que nem avaliamos.
Precisamos de punições justas, autoridade vigilante, uma reforma geral das leis para impedir perversidade ou leniência, jovens criminosos julgados como criminosos, não como crianças malcriadas. Ensino, educação e justiça tornaram-se tão ruins, tudo isso agravado pelo delírio das drogas fomentado por traficantes ou por irresponsáveis que as usam como diversão ou alívio momentâneo, que passamos a aceitar tudo como normal: "É assim mesmo". Muito crime, pouco castigo, castigo excessivo ou brando demais, leis antiquadas ou insuficientes, e chegamos aonde chegamos: os cidadãos reféns dentro de casa ou ratos assustados nas ruas, a bandidagem no controle; pais com medo dos filhos, professores insultados pela meninada sem educação. Seria de rir, se não fosse de chorar.
(In: Revista Veja. Lya Luft. 25/07/2009)
Tomo emprestado o título do romance do russo Dostoiévski, para comentar a multiplicação dos crimes nesta cultura torta, desde os pequenos "crimes" cotidianos – falta de respeito entre pais e filhos, maus-tratos a empregados, comportamento impensável de políticos e líderes, descuido com nossa saúde, segurança, educação – até os verdadeiros crimes: roubos, assaltos, assassinatos, tão incrivelmente banalizados nesta sociedade enferma. A crise de autoridade começa em casa, quando temos medo de dar ordens e limites ou mesmo castigos aos filhos, iludidos por uma série de psicologismos falsos que pululam como receitas de revista ou programa matinal de televisão e que também invadiram parte das escolas. Crianças e adolescentes saudáveis são tratados a mamadeira e cachorro-quente por pais desorientados e receosos de exercer qualquer comando. Jovens infratores são tratados como imbecis, embora espertos, e como inocentes, mesmo que perversos estupradores, frios assassinos, traficantes e ladrões comuns. São encaminhados para os chamados centros de ressocialização, onde nada aprendem de bom, mas muito de ruim, e logo voltam às ruas para continuar seus crimes.
Estamos levando na brincadeira a questão do erro e do castigo, ou do crime e da punição. A banalização da má-educação em casa e na escola, e do crime fora delas, é espantosa e tem consequências dramáticas que hoje não conseguimos mais avaliar. Sem limites em casa e sem punição de crimes fora dela, nada vai melhorar. Antes de mais nada, é dever mudar as leis – e não é possível que não se possa mudar uma lei, duas leis, muitas leis. Hoje, logo, agora! O ensino nas últimas décadas foi piorando, em parte pelo desinteresse dos governos e pelo péssimo incentivo aos professores, que ganham menos do que uma empregada doméstica, em parte como resultado de "diretrizes de ensino" que tornaram tudo confuso, experimental, com alunos servindo de cobaias, professores lotados de teorias (que também não funcionam). Além disso, aqui e ali grupos de ditos mestres passaram a se interessar mais por politicagem e ideologia do que pelo bem dos alunos e da própria classe. Não admira que em alguns lugares o respeito tenha sumido, os alunos considerem com desdém ou indignação a figura do antigo mestre e ainda por cima vivam, em muitas famílias, a dor da falta de pais: em lugar deles, como disse um jovem psicólogo, eles têm em casa um gatão e uma gatinha. Dispensam-se comentários.
Autoridade, onde existe, é considerada atrasada, antiquada e chata. Se nas famílias e escolas isso é um problema, na sociedade, com nossas leis falhas, sem rigor nem coerência, isso se torna uma tragédia. Não me falem em policiais corruptos, pois a maioria imensa deles é honrada, ganha vergonhosamente pouco, arrisca e perde a vida, e pouco ligamos para isso. Eu penso em leis ruins e em prisões lotadas de gente em condições animalescas. Nesta nossa cultura do absurdo, crimes pequenos levam seus autores a passar anos num desses lixões de gente chamados cadeias (muitas vezes sem sequer ter havido ainda julgamento e condenação), enquanto bandidos perigosos entram por uma porta de cadeia e saem pela outra, para voltar a cometer seus crimes, ou gozam na cadeia de um conforto que nem avaliamos.
Precisamos de punições justas, autoridade vigilante, uma reforma geral das leis para impedir perversidade ou leniência, jovens criminosos julgados como criminosos, não como crianças malcriadas. Ensino, educação e justiça tornaram-se tão ruins, tudo isso agravado pelo delírio das drogas fomentado por traficantes ou por irresponsáveis que as usam como diversão ou alívio momentâneo, que passamos a aceitar tudo como normal: "É assim mesmo". Muito crime, pouco castigo, castigo excessivo ou brando demais, leis antiquadas ou insuficientes, e chegamos aonde chegamos: os cidadãos reféns dentro de casa ou ratos assustados nas ruas, a bandidagem no controle; pais com medo dos filhos, professores insultados pela meninada sem educação. Seria de rir, se não fosse de chorar.
(In: Revista Veja. Lya Luft. 25/07/2009)
segunda-feira, 12 de julho de 2010
Pro Bilac II (*)
Há um tal amor
Que não é chamado de paixão
Estranho sentimento
Um encontro
Afetivo-intelectual
Sem muita explicação
Não se reconhece no corpo
Mas na admiração
Se satisfaz nas idéias
Se apraz nos prazeres
é cotidiano
Não dá saudade
Pois constante
Se lembra
Em qualquer ocasião
Amigo é bom
Mas, quando some,
é cobrada a atenção
Tem até a liberdade
De dizer o que quer
De dizer não
De fazer chorar
De ser feliz
De ouvir
O que se diz
De ser atriz
De responder
De recomendar
De suportar
De assistir
De ser
Amigo
Discute
Ouve
Cala
Pensa
Amigo fala
Conta casos
Repete histórias
Conta velhas e novas piadas
Fala de amores e desamores
Transações e frustrações
Amigo
Representa
Anima
Ironiza
Faz rir
Dá esporro
Ouve bronca
Amigo
Ronca
Amigo
Não tem censura
Vê os mesmos filmes
Ouve as mesmas músicas
Fala dos mesmos assuntos
Mas, engraçado,
Tem sempre conversas variadas
Amigo sempre se renova
Amigo
Marca
Se aborrece
Depois esquece
Amigo
Desaparece
E depois volta
Como se nada houvesse
Amigo
É sorte
Mas vai até a morte
Amigo
É místico e profano
Acende velas e incensos
Amigo
É racional e insano
Amigo aposta na loucura
E é careta
Amigo tem família
Amigo tem até cria
Amigo
Está sempre trabalhando
Divagando insone
Amigo some
Estudando
Fazendo provas
correções
Está sempre ocupado
Amigo dá plantão
Amigo faz serão
E dá um tempo
Pra mais um encontro
Amigo
Ainda sonha
Amigo
Vê lua e estrelas
No teto de um apartamento
Amigo
É incapaz de um fingimento
Amigo
Não é um momento de prazer
Amigo
é ter um prazer
Em cada momento
É estar no pensamento
Amigo
É sempre um novo desafio
Amigo
É rio
Amigo
É tudo
Amigo
É mudo
Amigo
É paz
Amigo faz
Amigo é natureza
Amigo é presa
Eterna lembrança
Amigo
É inconstância
E esse agradável prazer
de se contradizer
Amigo
É ter
Amigo
é samba
é rock
Amigo
é jazz
Amigo
é blue
Amigo
É uma presença que invade
Que enaltece
Amigo
Tece
Amigo
É o que divide
E se satisfaz em ajudar
É o ombro pra chorar
Que ri de qualquer bobagem
Que se diga
Amigo
Faz figa
Amigo
Não cobra
Amigo é obra
Mitifica
Critica
Pensa rápido
Amigo
Perdoa
Amigo
é sempre perdoado
Amigo
Não é coisa à toa
Amigo doa
Amigo é amado
Amigo
Cria
Copia
Inventa
Tenta
Amigo
Se sente à vontade
Amigo
Só tenta passar felicidade
Amigo bate na veia e na aorta
Amigo tem janelas e porta
Amigo
Sabe
Amigo invade
Amigo
não tem nexo
Amigo não tem sexo
Finalmente, amigo
Nos dá a liberdade
De estar chorando
De viver em vão
De viver em solidão.
E de morrer sorrindo
(“Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas”)
(*)Do Marco Antônio, velho amigo sumido, autor do poema acima,
Para o Edilberto, novo amigo chegado...
Que não é chamado de paixão
Estranho sentimento
Um encontro
Afetivo-intelectual
Sem muita explicação
Não se reconhece no corpo
Mas na admiração
Se satisfaz nas idéias
Se apraz nos prazeres
é cotidiano
Não dá saudade
Pois constante
Se lembra
Em qualquer ocasião
Amigo é bom
Mas, quando some,
é cobrada a atenção
Tem até a liberdade
De dizer o que quer
De dizer não
De fazer chorar
De ser feliz
De ouvir
O que se diz
De ser atriz
De responder
De recomendar
De suportar
De assistir
De ser
Amigo
Discute
Ouve
Cala
Pensa
Amigo fala
Conta casos
Repete histórias
Conta velhas e novas piadas
Fala de amores e desamores
Transações e frustrações
Amigo
Representa
Anima
Ironiza
Faz rir
Dá esporro
Ouve bronca
Amigo
Ronca
Amigo
Não tem censura
Vê os mesmos filmes
Ouve as mesmas músicas
Fala dos mesmos assuntos
Mas, engraçado,
Tem sempre conversas variadas
Amigo sempre se renova
Amigo
Marca
Se aborrece
Depois esquece
Amigo
Desaparece
E depois volta
Como se nada houvesse
Amigo
É sorte
Mas vai até a morte
Amigo
É místico e profano
Acende velas e incensos
Amigo
É racional e insano
Amigo aposta na loucura
E é careta
Amigo tem família
Amigo tem até cria
Amigo
Está sempre trabalhando
Divagando insone
Amigo some
Estudando
Fazendo provas
correções
Está sempre ocupado
Amigo dá plantão
Amigo faz serão
E dá um tempo
Pra mais um encontro
Amigo
Ainda sonha
Amigo
Vê lua e estrelas
No teto de um apartamento
Amigo
É incapaz de um fingimento
Amigo
Não é um momento de prazer
Amigo
é ter um prazer
Em cada momento
É estar no pensamento
Amigo
É sempre um novo desafio
Amigo
É rio
Amigo
É tudo
Amigo
É mudo
Amigo
É paz
Amigo faz
Amigo é natureza
Amigo é presa
Eterna lembrança
Amigo
É inconstância
E esse agradável prazer
de se contradizer
Amigo
É ter
Amigo
é samba
é rock
Amigo
é jazz
Amigo
é blue
Amigo
É uma presença que invade
Que enaltece
Amigo
Tece
Amigo
É o que divide
E se satisfaz em ajudar
É o ombro pra chorar
Que ri de qualquer bobagem
Que se diga
Amigo
Faz figa
Amigo
Não cobra
Amigo é obra
Mitifica
Critica
Pensa rápido
Amigo
Perdoa
Amigo
é sempre perdoado
Amigo
Não é coisa à toa
Amigo doa
Amigo é amado
Amigo
Cria
Copia
Inventa
Tenta
Amigo
Se sente à vontade
Amigo
Só tenta passar felicidade
Amigo bate na veia e na aorta
Amigo tem janelas e porta
Amigo
Sabe
Amigo invade
Amigo
não tem nexo
Amigo não tem sexo
Finalmente, amigo
Nos dá a liberdade
De estar chorando
De viver em vão
De viver em solidão.
E de morrer sorrindo
(“Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas”)
(*)Do Marco Antônio, velho amigo sumido, autor do poema acima,
Para o Edilberto, novo amigo chegado...
domingo, 11 de julho de 2010
Os filhos dos meus amigos
Yuri vai fazer 18 anos. O Dudu fez anteontem.
O Hugo e o Artur são campeões de skate profissional.
Ana Carolina já está namorando em casa.
O Ângelo vai fazer vestibular de Medicina.
Aléxia faz balé e ajuda a cuidar da irmã, Amanda.
O Agner é um mecânico nato. Já tem até macacão!
A Nayuri já é mãe
assim como a outrora pequena Dandara.
O Enzo eu só vi quando nasceu...
E nossos sonhos de ver os filhos correndo juntos tornaram-se realidade,
tão passageira que nem deu tempo de aproveitá-los.
Luís Arteiro chegou carregando a genética dos Nöthlich
e o priminho João também é a cara do pai
Serão as pimentinhas dos Pimentel...rs
Meu Artur chegou com dois primos: o Cauã e o Bê,
que ainda estava por nascer;
tem também uma prima, a Carol Carolina.
O Vinícius vai estudar com o Tutu quando crescer,
assim como a Laurinha e o meu Johan,
amiguinhos desde sempre, mesmo sem saber.
E o Giuli e a Cacá, que no início eram só nossos vizinhos,
me trouxeram de brinde o pai, Edilberto,
hoje meu amigo de infância e padrinho.
E a família Nascimento,
dando honra ao nome,
espera mais um rebento:
Miguel
que nos dará a honra da sua estreia
a qualquer momento...
O Hugo e o Artur são campeões de skate profissional.
Ana Carolina já está namorando em casa.
O Ângelo vai fazer vestibular de Medicina.
Aléxia faz balé e ajuda a cuidar da irmã, Amanda.
O Agner é um mecânico nato. Já tem até macacão!
A Nayuri já é mãe
assim como a outrora pequena Dandara.
O Enzo eu só vi quando nasceu...
E nossos sonhos de ver os filhos correndo juntos tornaram-se realidade,
tão passageira que nem deu tempo de aproveitá-los.
Luís Arteiro chegou carregando a genética dos Nöthlich
e o priminho João também é a cara do pai
Serão as pimentinhas dos Pimentel...rs
Meu Artur chegou com dois primos: o Cauã e o Bê,
que ainda estava por nascer;
tem também uma prima, a Carol Carolina.
O Vinícius vai estudar com o Tutu quando crescer,
assim como a Laurinha e o meu Johan,
amiguinhos desde sempre, mesmo sem saber.
E o Giuli e a Cacá, que no início eram só nossos vizinhos,
me trouxeram de brinde o pai, Edilberto,
hoje meu amigo de infância e padrinho.
E a família Nascimento,
dando honra ao nome,
espera mais um rebento:
Miguel
que nos dará a honra da sua estreia
a qualquer momento...
sábado, 10 de julho de 2010
Entre goleiros e roitweillers
Não se fala em outra coisa no momento. O (ex) goleiro Bruno, do Flamengo, está diretamente envolvido na morte de Eliza Samudio, mãe de seu filho menor e homônimo, tendo, inclusive, sido acusado de participação no enredo do trágico assassinato da moça, que foi desossada e teve sua carne devorada por cães da raça roitweiller.
Eu poderia aqui falar do preconceito a jogadores do Flamengo. Que eles são todos uns favelados, traficantes, viciados, mas eu me recuso a repetir essas leviandades. Poderia também reproduzir as piadas, como aquela do trocadilho com o ditado popular “prendam suas cabritas que meus roitweillers estão soltos”, mas eu me recuso a participar desse coro de sensos comuns repetidos pela mídia marrom.
A história é ainda mais medonha. Bruno teria cogitado matar também o bebê. Depois de ter passado por várias casas, o menor estava sob a guarda do avô materno, mas teve de ser entregue à avó materna, mãe de Eliza. Motivo: o avô foi acusado de estuprar outra filha quando a menor tinha 10 anos de idade. A mãe de Eliza abandonou a filha (por enquanto, oficialmente tratada como desaparecida) quando criança. Diz-se que a mãe de Bruno também o abandonou quando menino. O pai do jogador foi omisso em sua criação. Meu Deus, como será o futuro desse bebê desamparado?
Eliza foi uma menina que namorou vários jogadores de futebol, participou de orgias e fez filme pornográfico. Seu maior sonho era a pensão alimentícia do filho, que lhe daria uma vida de confortos. No fundo, tenho dó dessa moça: era uma pobre-coitada que viveu um sonho de princesa macabro. Não merecia o final que teve. Nem em épocas remotas, em sociedades altamente patriarcalistas, a promiscuidade foi punida de forma tal grotesca.
No fim das contas, o que eu acho é que todos nós deveríamos pensar nos valores que ensinamos para nossos filhos e filhas. Que eles vejam que os jogadores de futebol não são os heróis da história. Que ser modelo, atriz, “Maria Chuteira”, michê, ou qualquer coisa do gênero, não é tão glamouroso como a maioria das mães vêm tentando ensinar às filhas ansiosas para se tornarem emergentes. Que dinheiro traz conforto, sim, mas que existem outros bens que devemos ansiar em nossas vidas. Que não é vergonha ser humilde, ao contrário do que se em visto proclamar por aí. Que dinheiro não compra honra ... Me sinto até envergonhada de digitar aqui essas obviedades, pasmem.
Se Eliza tivesse uma noite de sexo com Mick Jagger e virasse primeira-dama de uma rede de comunicação, falaria bobagem em rede nacional e seria ovacionada por uma legião de fãs. Se fosse para um reality show, minimamente pousaria nua para uma revista masculina e ganharia o suficiente para comprar uma cobertura tríplex na Barra da Tijuca. Mas e se ninguém visse a ex-modelo-e-atriz sendo surrada, será que alguém daria sua falta? Seu sumiço estaria nos principais telejornais do país, quiçá do mundo? Seu filho estaria vivo? Bruno estaria impune e continuaria ídolo de muitos meninos?
Entre goleiros e roitweillers, o Brasil perdeu valores, perdeu senso de moral, perdeu o rumo entre o que é certo e errado. E ainda bem que perdeu a Copa, se não a Fátima Bernardes ainda estaria na porta do hotel da Seleção tentando uma última exclusiva antes da final.
Eu poderia aqui falar do preconceito a jogadores do Flamengo. Que eles são todos uns favelados, traficantes, viciados, mas eu me recuso a repetir essas leviandades. Poderia também reproduzir as piadas, como aquela do trocadilho com o ditado popular “prendam suas cabritas que meus roitweillers estão soltos”, mas eu me recuso a participar desse coro de sensos comuns repetidos pela mídia marrom.
A história é ainda mais medonha. Bruno teria cogitado matar também o bebê. Depois de ter passado por várias casas, o menor estava sob a guarda do avô materno, mas teve de ser entregue à avó materna, mãe de Eliza. Motivo: o avô foi acusado de estuprar outra filha quando a menor tinha 10 anos de idade. A mãe de Eliza abandonou a filha (por enquanto, oficialmente tratada como desaparecida) quando criança. Diz-se que a mãe de Bruno também o abandonou quando menino. O pai do jogador foi omisso em sua criação. Meu Deus, como será o futuro desse bebê desamparado?
Eliza foi uma menina que namorou vários jogadores de futebol, participou de orgias e fez filme pornográfico. Seu maior sonho era a pensão alimentícia do filho, que lhe daria uma vida de confortos. No fundo, tenho dó dessa moça: era uma pobre-coitada que viveu um sonho de princesa macabro. Não merecia o final que teve. Nem em épocas remotas, em sociedades altamente patriarcalistas, a promiscuidade foi punida de forma tal grotesca.
No fim das contas, o que eu acho é que todos nós deveríamos pensar nos valores que ensinamos para nossos filhos e filhas. Que eles vejam que os jogadores de futebol não são os heróis da história. Que ser modelo, atriz, “Maria Chuteira”, michê, ou qualquer coisa do gênero, não é tão glamouroso como a maioria das mães vêm tentando ensinar às filhas ansiosas para se tornarem emergentes. Que dinheiro traz conforto, sim, mas que existem outros bens que devemos ansiar em nossas vidas. Que não é vergonha ser humilde, ao contrário do que se em visto proclamar por aí. Que dinheiro não compra honra ... Me sinto até envergonhada de digitar aqui essas obviedades, pasmem.
Se Eliza tivesse uma noite de sexo com Mick Jagger e virasse primeira-dama de uma rede de comunicação, falaria bobagem em rede nacional e seria ovacionada por uma legião de fãs. Se fosse para um reality show, minimamente pousaria nua para uma revista masculina e ganharia o suficiente para comprar uma cobertura tríplex na Barra da Tijuca. Mas e se ninguém visse a ex-modelo-e-atriz sendo surrada, será que alguém daria sua falta? Seu sumiço estaria nos principais telejornais do país, quiçá do mundo? Seu filho estaria vivo? Bruno estaria impune e continuaria ídolo de muitos meninos?
Entre goleiros e roitweillers, o Brasil perdeu valores, perdeu senso de moral, perdeu o rumo entre o que é certo e errado. E ainda bem que perdeu a Copa, se não a Fátima Bernardes ainda estaria na porta do hotel da Seleção tentando uma última exclusiva antes da final.
sábado, 3 de julho de 2010
Johan e a Copa de 2010
Johan viu ontem o Brasil sair da Copa. É bem verdade que em 2006 ele também viu, mas não lembra. Essa foi a primeira copa da qual ele se lembrará pelo resto da vida. Tem 3 camisas, peruca e bandeira. Colecionou o álbum da Copa, fez tabela, queria o aniversário de 8 anos de Brasil, dormiu abraçado com as figurinhas dos jogadores, fez promessa na ponte dos desejos... e tudo para ver o Brasil perder do jeito que foi, um jogo de meninos perdidos em campo. Meu filho chorou, bastante. Na casa da amiga Vani, todo mundo tratou de consolar o menino... Por fim, quem conseguiu foi o Corélio, namorado da Mel, flamenguista roxo, que sacou a camisa vermelha e preta da mala e ficou sacudindo com o Johan, dizendo que aquele é que era o timão de verdade. Meu filho logo esqueceu as lágrimas, e deu para zoar o Rafa, tricolor incansável. Passados alguns minutos e todos nós já estávamos contentes de novo, rindo, comendo, bebendo e falando de nossos projetos de futuro (afinal, todas as meninas presentes eram feras em suas áreas profissionais e nossos almoços já rendem pontos no lattes...rs).
Na hora de vir embora, me deu um trem esquisito e resolvi retomar o assunto da Copa com o Johan. Contei pra ele que eu sou órfã da Copa de 1982, a primeira de que me lembro e acho que a maior decepção dos brasileiros até hoje. Ele pareceu se consolar com a minha história. Disse pra ele que nem sempre a gente ganha e que é preciso aprender a perder. Cantei pra ele o refrão que eu sempre lembro da Elis, "nem sempre ganhando, nem sempre perdendo, mas aprendendo a jogar...". Ele me ouviu. Parece que entendeu a moral da história. Tomara. Eu particularmente detesto essa onda de patriotismo sazonal!
Em tempo que jogador compra moto pra traficante, aparece em baile funk com bandido e é suspeito de matar a amante, eu tenho medo do que meu filho pode tomar como valores. E tenho medo também de outros filhos e alunos, que parecem ter seus valores morais corrompidos por essa sociedade.
E ainda tem gente que prefere falar mal do Dunga (só perdoo o Tadeu e o Escobar)... Desculpem o trocadilho, mas frente a tudo o que eu vi acontecer no mundo do futebol nos últimos dias, o Dunga é anão!!!
Na hora de vir embora, me deu um trem esquisito e resolvi retomar o assunto da Copa com o Johan. Contei pra ele que eu sou órfã da Copa de 1982, a primeira de que me lembro e acho que a maior decepção dos brasileiros até hoje. Ele pareceu se consolar com a minha história. Disse pra ele que nem sempre a gente ganha e que é preciso aprender a perder. Cantei pra ele o refrão que eu sempre lembro da Elis, "nem sempre ganhando, nem sempre perdendo, mas aprendendo a jogar...". Ele me ouviu. Parece que entendeu a moral da história. Tomara. Eu particularmente detesto essa onda de patriotismo sazonal!
Em tempo que jogador compra moto pra traficante, aparece em baile funk com bandido e é suspeito de matar a amante, eu tenho medo do que meu filho pode tomar como valores. E tenho medo também de outros filhos e alunos, que parecem ter seus valores morais corrompidos por essa sociedade.
E ainda tem gente que prefere falar mal do Dunga (só perdoo o Tadeu e o Escobar)... Desculpem o trocadilho, mas frente a tudo o que eu vi acontecer no mundo do futebol nos últimos dias, o Dunga é anão!!!
Amarrando bodes...
Estou no maior mau humor. De ontem pra hoje, depois que o Brasil perdeu a Copa, parece que tudo resolveu dar errado, à exceção da amiga Vani, que ganhou notícia de que foi promovida. Pois é, mas para mim a maré ficou braba. Aconteceu de tudo, desde esquecer de pagar umas contas (o que me gerou uma perda de grana de juros), até facada pelas costas (eu sempre insisto em dar crédito demais a gente que não é tão amiga). Tudo bem, é bem verdade que meu amigo Beto perdeu o emprego e está superpreocupado com a grana, porque tem dois filhos pequenos para criar, etc., mas ainda assim tô azeda: perdi uma prova importante para, de repente, mudar de emprego e ainda trabalhar com gente muito legal. Faz parte, estou tentando me convencer... Minha casa entrou em obra e tem poeira até o teto... faz parte! O Artur começou o dia com uma mega golfada, só não se afogou porque eu e Rafa estávamos prestando atenção nele... faz parte! Depois de tomar banho e estar cheirosinho, fez tudo de novo... faz parte! Descobri que quase perdi o emprego na facul porque estava grávida e pedi licença... faz parte! Paguei uma grana para fazer obra na casa alugada... faz parte! Tenho de ver um monte de comentarista idiota tentando fazer gracinha na TV... faz parte! O filho mais velho saiu com o pai para ver o jogo da Alemanha e, na hora de sair, quando viu o pai, parece que o menino esqueceu que tem mãe... faz parte! A amiga Candida que me desculpe, mas pro bode ficar completo, só falta a Argentina ganhar a Copa (não, isso não faz parte!!!!!).
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