sábado, 10 de julho de 2010

Entre goleiros e roitweillers

Não se fala em outra coisa no momento. O (ex) goleiro Bruno, do Flamengo, está diretamente envolvido na morte de Eliza Samudio, mãe de seu filho menor e homônimo, tendo, inclusive, sido acusado de participação no enredo do trágico assassinato da moça, que foi desossada e teve sua carne devorada por cães da raça roitweiller.

Eu poderia aqui falar do preconceito a jogadores do Flamengo. Que eles são todos uns favelados, traficantes, viciados, mas eu me recuso a repetir essas leviandades. Poderia também reproduzir as piadas, como aquela do trocadilho com o ditado popular “prendam suas cabritas que meus roitweillers estão soltos”, mas eu me recuso a participar desse coro de sensos comuns repetidos pela mídia marrom.

A história é ainda mais medonha. Bruno teria cogitado matar também o bebê. Depois de ter passado por várias casas, o menor estava sob a guarda do avô materno, mas teve de ser entregue à avó materna, mãe de Eliza. Motivo: o avô foi acusado de estuprar outra filha quando a menor tinha 10 anos de idade. A mãe de Eliza abandonou a filha (por enquanto, oficialmente tratada como desaparecida) quando criança. Diz-se que a mãe de Bruno também o abandonou quando menino. O pai do jogador foi omisso em sua criação. Meu Deus, como será o futuro desse bebê desamparado?

Eliza foi uma menina que namorou vários jogadores de futebol, participou de orgias e fez filme pornográfico. Seu maior sonho era a pensão alimentícia do filho, que lhe daria uma vida de confortos. No fundo, tenho dó dessa moça: era uma pobre-coitada que viveu um sonho de princesa macabro. Não merecia o final que teve. Nem em épocas remotas, em sociedades altamente patriarcalistas, a promiscuidade foi punida de forma tal grotesca.

No fim das contas, o que eu acho é que todos nós deveríamos pensar nos valores que ensinamos para nossos filhos e filhas. Que eles vejam que os jogadores de futebol não são os heróis da história. Que ser modelo, atriz, “Maria Chuteira”, michê, ou qualquer coisa do gênero, não é tão glamouroso como a maioria das mães vêm tentando ensinar às filhas ansiosas para se tornarem emergentes. Que dinheiro traz conforto, sim, mas que existem outros bens que devemos ansiar em nossas vidas. Que não é vergonha ser humilde, ao contrário do que se em visto proclamar por aí. Que dinheiro não compra honra ... Me sinto até envergonhada de digitar aqui essas obviedades, pasmem.

Se Eliza tivesse uma noite de sexo com Mick Jagger e virasse primeira-dama de uma rede de comunicação, falaria bobagem em rede nacional e seria ovacionada por uma legião de fãs. Se fosse para um reality show, minimamente pousaria nua para uma revista masculina e ganharia o suficiente para comprar uma cobertura tríplex na Barra da Tijuca. Mas e se ninguém visse a ex-modelo-e-atriz sendo surrada, será que alguém daria sua falta? Seu sumiço estaria nos principais telejornais do país, quiçá do mundo? Seu filho estaria vivo? Bruno estaria impune e continuaria ídolo de muitos meninos?

Entre goleiros e roitweillers, o Brasil perdeu valores, perdeu senso de moral, perdeu o rumo entre o que é certo e errado. E ainda bem que perdeu a Copa, se não a Fátima Bernardes ainda estaria na porta do hotel da Seleção tentando uma última exclusiva antes da final.

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