segunda-feira, 12 de julho de 2010

Pro Bilac II (*)

Há um tal amor
Que não é chamado de paixão
Estranho sentimento
Um encontro
Afetivo-intelectual
Sem muita explicação
Não se reconhece no corpo
Mas na admiração
Se satisfaz nas idéias
Se apraz nos prazeres
é cotidiano
Não dá saudade
Pois constante
Se lembra
Em qualquer ocasião
Amigo é bom
Mas, quando some,
é cobrada a atenção
Tem até a liberdade
De dizer o que quer
De dizer não
De fazer chorar
De ser feliz
De ouvir
O que se diz
De ser atriz
De responder
De recomendar
De suportar
De assistir
De ser

Amigo
Discute
Ouve
Cala
Pensa
Amigo fala
Conta casos
Repete histórias
Conta velhas e novas piadas
Fala de amores e desamores
Transações e frustrações
Amigo
Representa
Anima
Ironiza
Faz rir
Dá esporro
Ouve bronca
Amigo
Ronca
Amigo
Não tem censura
Vê os mesmos filmes
Ouve as mesmas músicas
Fala dos mesmos assuntos
Mas, engraçado,
Tem sempre conversas variadas
Amigo sempre se renova
Amigo
Marca
Se aborrece
Depois esquece
Amigo
Desaparece
E depois volta
Como se nada houvesse
Amigo
É sorte
Mas vai até a morte
Amigo
É místico e profano
Acende velas e incensos
Amigo
É racional e insano
Amigo aposta na loucura
E é careta
Amigo tem família
Amigo tem até cria
Amigo
Está sempre trabalhando
Divagando insone
Amigo some
Estudando
Fazendo provas
correções
Está sempre ocupado
Amigo dá plantão
Amigo faz serão
E dá um tempo
Pra mais um encontro
Amigo
Ainda sonha
Amigo
Vê lua e estrelas
No teto de um apartamento
Amigo
É incapaz de um fingimento
Amigo
Não é um momento de prazer
Amigo
é ter um prazer
Em cada momento
É estar no pensamento
Amigo
É sempre um novo desafio
Amigo
É rio
Amigo
É tudo
Amigo
É mudo
Amigo
É paz
Amigo faz
Amigo é natureza
Amigo é presa
Eterna lembrança
Amigo
É inconstância
E esse agradável prazer
de se contradizer

Amigo
É ter
Amigo
é samba
é rock
Amigo
é jazz
Amigo
é blue
Amigo
É uma presença que invade
Que enaltece
Amigo
Tece
Amigo
É o que divide
E se satisfaz em ajudar
É o ombro pra chorar
Que ri de qualquer bobagem
Que se diga
Amigo
Faz figa
Amigo
Não cobra
Amigo é obra
Mitifica
Critica
Pensa rápido
Amigo
Perdoa
Amigo
é sempre perdoado
Amigo
Não é coisa à toa
Amigo doa
Amigo é amado
Amigo
Cria
Copia
Inventa
Tenta
Amigo
Se sente à vontade
Amigo
Só tenta passar felicidade
Amigo bate na veia e na aorta
Amigo tem janelas e porta
Amigo
Sabe
Amigo invade
Amigo
não tem nexo
Amigo não tem sexo

Finalmente, amigo
Nos dá a liberdade
De estar chorando
De viver em vão
De viver em solidão.
E de morrer sorrindo
(“Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas”)

(*)Do Marco Antônio, velho amigo sumido, autor do poema acima,
Para o Edilberto, novo amigo chegado...

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