terça-feira, 27 de julho de 2010

DE MÃE PRA MÃES

Minha amiga Candida é uma mulher admirável. Ela pinta, borda, costura e cuida dos filhos como ninguém.Um dia, quando eu crescer, quero ser igual a ela: bacanérrima, com uma casa linda, que a gente não tem vontade de ir embora nunca. Tem quatro filhos lindos e maravilhosos: Lis, Pedro, Hugo e Artur (este último me inspirou na escolha do nome do meu caçula). Foi a Can que me ensinou que mulher quer, no fundo, poder ser Amélia, para só ficar em casa com os filhos, com a casa e com um amor (e eu demorei muito tempo para aprender isso). Quando meu pai morreu, ela se despencou de BH e deixou tudo para trás, só para me dar colo por uma noite. Amiga, irmã, mãezona, a Can se tornou minha amiga de infância numa noite, quando não dormimos só para contar uma para a outra tudo o que a vida nos ensinou. E olha que isso foi no primeiro dia em que a gente se viu, numa espécie de "amor de amigo à primeira vista".

Hoje, quando eu abri seu blog, eu vi esse post. Chorei muito quando li, por motivos óbvios. É que a minha amiga-maravilha, além de tudo o que eu já falei, é mãe de dois skatistas, dois meninos alados que voam nas noites de Belo Horizonte, procurando superar seus limites e seus recordes...

Dedico hoje o meu post a Can, e às mães de outros meninos voadores que insistiram em nos deixar mais cedo...

DE MÃE PRA MÃES (Candida Najar)
Não há como negar que em coração de mãe cabe um mundo inteiro, mas não tem nenhum canto - e nem terá nunca - que caiba compreender e aceitar morte de filho. Essa possibilidade não deveria existir se tudo fosse tão perfeito quanto gostaríamos. Deus falhou aí, deixando margem pra que uma ruindade tão grande acontecesse a tantas mulheres neste vasto mundão.
Um anjo skatista deu de partir cedo demais. Chorei até desidratar e perder a voz, porque me coloco no lugar da mãe dele e não consigo acreditar que ele 'tava lá, fazendo uma coisa tão bacana, voando no chão, e vem alguém pra acabar com a alegria do menino, da mãe do menino, do pai do menino, dos amigos do menino, de tantos meninos e tantas mães dos meninos que só querem sentir o vento na cara, testar o equilíbrio em cima daquela prancha de madeira, ralar os cotovelos e joelhos pra, quando chegarem em casa esfolados, a mãe assoprar e fazer curativos. Se for muito grave os amigos já ligam do hospital pra mãe ir lá ver o médico colocar ombro no lugar, engessar braços e mãos, marcar cirurgia pra remendar o que quebrou na última queda...
Cada um precisa ter mãe pra dar apoio quando é machucado às vésperas de uma competição e, claro, não consegue lidar com a frustração sozinho. Aí aparece um colo quentinho pra acolher, mãos protetoras pra fazer um chá e tempo disponível pra assistir juntos filmes "nada a ver", mas cada etapa destas faz parte do apoio moral pro anjo melhorar.
Cada uma de nós precisa tê-los pra saber a delícia que é o amor incondicional, infinito, sem ressalvas - apesar dos sobressaltos.

Ver nossos meninos detonados e cuidar deles é o máximo que uma mãe pode suportar.
Despedir pra sempre nunca.
Mas às vezes é preciso nadar contra a correnteza, buscar forças sabe-se lá de onde pra agradecer o tempo que nos é dado na convivência com nossos filhos. A alegria que vivemos com eles ninguém nem nada poderá nunca apagar, nem comparar, nem esquecer.
Que sua mãe seja abençoada com a força e a coragem de todas as mães, Rafael. E que o amor dela por você seja a mola propulsora pra que a saudade seja menos doída com o passar do tempo. Toque canções de ninar pra ela, ainda que em sonho. Agora ela é quem tá precisando de colo e chá quente, de quem assopre a ferida que sua partida deixou.
Vá em paz, anjo skatista! Fique em paz, mãe do menino voador...

Um comentário:

  1. Aninha linda, só agora vi o você escreveu sobre mim. Fiquei toda metida, viu?
    Ando sumida, cuidando de meus anjos skatistas- e dos não skatistas também. Tuti operou um mês atrás, Hugo encara a cirurgia do ombro semana que vem. E cá estamos nós, costurando a vida. Te amo. Saudade!

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